PRODUÇÃO AGRÍCOLA E INFRA-ESTRUTURA
DE ARMAZENAGEM NO BRASIL
Sebastião Nogueira Junior
Alfredo Tsunechiro
INTRODUÇÃO
Com este trabalho os autores, Sebastião Nogueira Junior e Alfredo Tsunechiro, levantam o problema de descompasso entre a produção de grãos no Brasil, de 1994-2003, passando de 76 milhões de toneladas para 123 milhões de toneladas, com um crescimento de 62% , enquanto a capacidade de armazenagem avançou apenas 7,4%, segundos dados da CONAB. Objetivam com isso, identificar as regiões críticas quanto à disponibilidade de espaço para melhor adequação e expansão da armazenagem, principalmente, nas propriedades rurais, visando fornecer ao produtor, condições de reter sua produção para aproveitar as melhores épocas de comercialização, procurando evitar também o congestionamento de armazéns, silos e portos em períodos de safra.
É importante salientar que os programas governamentais de apoio à pesquisa, como o de modernização da frota de tratores, colhedoras e implementos agrícolas, vêm contribuindo para o crescimento da produção de grãos, elevando a produtividade, não só nas novas fronteiras da Região Setentrional, mas também nas zonas tradicionais do Sudeste-Sul, onde ocorrem substituições de atividades, principalmente em razão da elevada remuneração alcançada pela soja nos últimos anos.
No caso da pesquisa, o IPEA através de uma simulação realizada, mostra que os gastos da EMBRAPA, aqui representando todo o aporte tecnológico nacional, são o principal fator explicativo de longo prazo para o crescimento da agropecuária à frente inclusive do Crédito Rural. Por outro lado, a armazenagem se constitui num foco de preocupação e inevitáveis comparações, dificultando o pleno desenvolvimento do agronegócio. Logo, se desejarmos aumentar as exportações de grãos e suprir a crescente demanda interna, é necessário que se invista não só na produção (máquinas e tecnologia de plantio e colheita), mas também na armazenagem de qualidade. Sem esse investimento, o crescimento do setor torna-se inviável.
DESENVOLVIMENTO
Os autores através de dados básicos da CONAB/2004 e de ampla bibliografia pertinente à questão abordada concluem que a capacidade de armazenagem do Brasil, exige elevada soma de investimento de infra-estrutura, uma vez que não tem acompanhado ao longo dos anos o ritmo de crescimento das safras. Estudos precedentes sobre o tema apontam que nunca houve de fato muita clareza sobre a prioridade para o complexo armazenador brasileiro.
Nos últimos anos o explosivo crescimento da soja, colocou o país como principal exportador mundial com 37 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos com 34 milhões de toneladas, com perspectivas de sucessivos ganhos nas próximas safras.
Capitaneada pela soja a expressiva expansão dos grãos dos últimos anos, induziu substanciais investimentos para ampliação da capacidade da rede de armazenagem, principalmente por cooperativas e produtores agrícolas. Mesmo assim, sabe-se que ainda ocorrem sérios problemas de adequação e localização, com efeitos prejudiciais à competitividade do agronegócio nacional. Desde a década de 1990, o poder público tem deixado de atuar em áreas de infra-estrutura diretamente, como é o caso da armazenagem. Como exemplo pode-se citar a desmobilização patrimonial da CONAB, com a privatização de 38 armazéns.
Quanto à adequação da rede de armazéns fica evidente através dos demonstrativos dos autores que o Brasil precisa urgentemente criar um programa similar ao antigo PRONAZEM. Contudo, como vimos, não ocorreu um desenvolvimento harmônico, sobretudo no que diz respeito às funções físicas de comercialização agrícola - transporte e armazenagem.
O caso do transporte é muito grave em um país com a grande extensão territorial como o Brasil, onde predomina o transporte rodoviário encarecendo os custos de coleta e distribuição. No tocante a armazenagem a demanda é de 155,2 milhões de toneladas, sendo 44.7 milhões de toneladas de produtos ensacados que demandam armazéns convencionais, como é o caso do açúcar, algodão (caroço), amendoim, arroz, café beneficiado, feijão, girassol e mamona. Quanto os produtos a granel, 114,5 milhões de toneladas, demandam silos e graneleiros, como é o caso da aveia, centeio, cevada, milho, soja, sorgo, trigo nacional e importado.
As UFs que lideraram a demanda total de armazenagem em 2003,foram os estados do Paraná com 20,3% do total brasileiro, São Paulo com 15,7% , Rio Grande do Sul com 14,8%, Mato Grosso com 12.3%, Goiás com 7,7% e Minas Gerais com 7,2%, perfazendo um total de 78%.
Na safra de 2002/2003, quando houve recorde na produção de grãos de 123,2 milhões de toneladas, com uma oferta brasileira dos principais produtos agrícolas que podem ser armazenados a meio ambiente natural totalizou 155,2 milhões de toneladas.
Considerando essa cifra para a análise da capacidade estática de armazenagem no Brasil, posição de outubro de 2003, que foi de 90,5 milhões de toneladas constata-se um déficit corrente de 64,7 milhões de toneladas no total e de 32,7milhões de toneladas, se considerados apenas os grãos.
Porém, se formos usar o padrão universal de rotação de estocagem (giro 1,5 vez) como indicador de viabilidade técnica e econômica para implantação de uma unidade de armazenagem, a capacidade estática de 64,7 milhões de toneladas se converte em 135,8 milhões de toneladas, (capacidade dinâmica) com um déficit menor, em torno de 19,4 milhões de toneladas de produtos agrícolas passíveis de estocagem e com um superávit de 13,3 milhões de toneladas, no caso dos grãos.
Desses 90, 5 milhões de toneladas de oferta de armazenagem no Brasil em 2003, dada pela capacidade estática, constituída de 24,2 milhões de toneladas em armazéns convencionais (26,8%) e 66,3 milhões de toneladas em armazéns graneleiros e silos (73,2%)
Conforme já foi mencionado, a capacidade dinâmica de armazenagem no Brasil nesse mesmo período, (2003), converte-se em 135,8 milhões de toneladas, das quais 36,4 milhões de toneladas se referem a armazéns convencionais e 99,4 milhões de toneladas a silos e armazéns graneleiros. Com essa capacidade dinâmica, com base na rotatividade de 1,5 no período de um ano, fator universalmente utilizado, devido às diferentes estacionalidades das safras e à não-coincidência plena da guarda das mercadorias nas unidades armazenadoras, aparenta até haver ligeira folga na cobertura da produção. Contudo, os autores salientam que a qualidade das unidades existentes e a sua adequação (granel x sacaria) ainda deixam a desejar, sobretudo nas regiões tradicionais, pela própria idade das instalações, dada à menor inversão de recursos em infra–estrutura, em contraponto àquelas com incorporação recente de novas áreas ao processo produtivo, onde predominam unidades para a armazenagem a granel.
. O crescimento da exploração agrícola em direção à região Centro-Norte do País exigiu e continua a exigir maciços investimentos na rede de armazenagem e nos modos de transporte, ao mesmo tempo em que os problemas de adequação e de localização das unidades existentes precisam ser resolvidos.
Outra questão importante é o atendimento da necessidade de infra-estrutura adicional para culturas em expansão (sorgo granífero e triticale), cujos produtos demandam silos (células) específicos, bem como dos grãos geneticamente modificados, cuja produção exige igualmente um sistema próprio de guarda. Daí a necessidade de novas pesquisas para um posicionamento sobre a situação atual e as perspectivas para a armazenagem frente à nova geografia do Brasil Rural.
CONCLUSÃO
Espera-se que os dados obtidos com este trabalho de Sebastião Nogueira Junior e Alfredo Tsunechiro, forneçam elementos para tomadas de decisão dos agentes envolvidos no agronegócio, com a indicação das áreas carentes ou que necessitam de ajustes, para que agricultura de grãos seja explorada com racionalidade e mantenha-se competitiva nos cenários nacional e internacional, podendo assim oferecer produtos de baixo custo, garantir renda para os agricultores e gerar divisas para o país.
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