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domingo, 4 de outubro de 2009

A Fazenda Santa Gertrudes em Rio Claro

É no panorama da segunda metade do século XIX, tendo São Paulo como o maior produtor de café do país de maior produção mundial do produto, que começam a surgir as grandes fazendas de café do interior do Estado, o grande esteio da economia do Brasil nos anos de 1870 a 1930.
A Fazenda Santa Gertrudes, com mais de um século de existência (1854 – 1998), ao contrário de muitas fazendas cafeeiras que tiveram um curto período de vida (mais ou menos 50 anos, devido a vários fatores, dentre eles a exaustão das terras), venceu todas as crises e mudanças sociais e econômicas advindas durante todo esse período, fato que pode ser relacionado à boa administração empregada pelos seus proprietários durante o tempo.
A Fazenda Santa Gertrudes originou-se de uma sesmaria, a do Morro Azul, era semelhante a outras importantes fazendas de cana e café, como a Fazenda Ibicaba, de propriedade do senador José Vergueiro, que foi o primeiro fazendeiro paulista a tentar implantar o trabalho assalariado de imigrantes em São Paulo na década de 1860. A Fazenda Santa Gertrudes, como outras fazendas da região, teve sua origem como engenho de açúcar, sendo gradativamente substituída pelo plantio de café até a década de 1860, quando sua produção superou a da cana.
De 1854 a 1873 o proprietário da fazenda foi o Sr. Amador de Lacerda Rodrigues Jordão, o Barão de São João de Rio Claro, homem de muitos bens e capital, e de família tradicional agrícola no interior de São Paulo. Com a morte do Barão em 1873, a fazenda é herdada a sua esposa que se casa em 1876 com o Marquês de Três Rios, que passa a gerir a fazenda até o ano de 1893.
O Marquês, pessoa muito influente e rica na sua época, consegue reunir esforços e capital para influenciar a passagem dos trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro nos arredores da fazenda, quando da chegada da ferrovia à cidade de Rio Claro em 1876 – coisa muito comum na construção das ferrovias que serviam as zonas cafeeiras. Antes da ferrovia, toda a produção de café era feita em lombos de muares (burro, jumentos e mulas) até o porto de Santos (cerca de 180 km de distância). Cada animal carregava de 120 a 150 quilos de café e só se conseguia fazer 6 viagens por safra (safra anual) com cada animal até o porto. O transporte era difícil, em péssimas estradas onde não se circulavam veículos com rodas. Segundo os cálculos de alguns historiadores, em 1860, quando a cidade de Rio Claro produziu 2.600 toneladas de café, havia na cidade cerca de 6.000 mulas para o transporte até o porto de Santos, em uma viagem que durava de 7 a 10 dias.
Neste sentido, pode-se imaginar a proporção do melhoramento que significaria a chegada da ferrovia nas fazendas do interior de São Paulo, pois a economia de exportação de Rio Claro e região, depois de mais de 50 anos de meios de transportes primitivos, saltava quase que diretamente para a era da ferrovia, onde o tempo de transporte reduziu-se de 7 a 10 dias em lombos de muares, para apenas 1 dia nos vagões dos trens, significando uma economia de tempo e dinheiro.
Com a chegada da ferrovia, as cidades e as fazendas ganharam em desenvolvimento, e a Fazenda Santa Gertrudes em 1893 já possuía uma área de 700 alqueires (ou 17.150.000 metros quadrados), produzindo 450 toneladas de café, aumentando em 5 vezes a sua produção que, em 1861, antes da ferrovia (que chegou em 1876) era de apenas 90 toneladas, tornando-se a maior fazenda de Rio Claro.
Com a morte do Marquês de Três Rios em 1893, a fazenda foi herdada por Eduardo Prates, grande capitalista e homem de negócios, possuindo casas bancárias, imóveis, era acionista e diretor da Companhia Paulista, etc. Sendo então um ótimo administrador, Eduardo Prates transformou a Fazenda Santa Gertrudes em uma propriedade rural modelo, ampliando ainda mais sua área (que chegou a ter 1 milhão de pés de café, com 866 alqueires (ou 2,095 hectares = 20.957.750 metros quadrados), em 1885, introduziu melhoramentos, como a luz elétrica, na década de 1900; e inovações e benefícios que a mais moderna técnica da época oferecia, a propriedade possuía ainda 85 casas para os colonos (imigrantes).
Esta fazenda possuía a maior concentração de trabalhadores estrangeiros e seus descendentes (o que se pode perceber pelo número de casas construídas para os colonos), dentre as fazendas da região. Cálculos efetuados mostram que na Fazenda Santa Gertrudes deveriam ser contratadas, em média, 35 novas famílias todo ano, sendo que cada família possuía em média 6 a 7 integrantes. Estas famílias proviam diretamente da Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo, ou eram arregimentadas nas fazendas da redondeza, ou nos municípios da região.
Neste período, a fazenda passou a constar no calendário de visitas das personalidades mais importantes da época, tanto nacionais como de estrangeiros, assim, vir a São Paulo e não visitar uma fazenda cafeeira era o mesmo que ir a Roma e não ver o papa, segundo dizeres dos visitantes da época.
A importância da Fazenda Santa Gertrudes não reside apenas no fato de dela ter sido uma propriedade modelo na cafeicultura paulista, digna de ser vista por ilustres personalidades. A Fazenda Santa Gertrudes foi a mais importante propriedade cafeeira do município de Rio Claro (quando o café era o maior produto da economia brasileira e o Brasil o maior produtor mundial de café, sendo São Paulo o Estado de maior produção do país, e Rio Claro era o quarto maior produtor de São Paulo em 1897), no então chamado Oeste Paulista. A propriedade modelo era um exemplo da complexa empresa capitalista cafeeira.
Por Amilson Barbosa Henriques
Colunista Brasil Escola

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