A modernidade nasceu com o choque entre a Europa e seu “outro” e controla-lo, vencê-lo, viola-lo, “para que”, quando pode se vestir com um ego descobridor, conquistador, colonizador e principalmente civilizador .
Diante das diferenças entre indígenas e europeus, a primeira atitude é de repudia ou fascínio, sendo questionado a propriedade ou não de alma pelos nativos. A igreja insistiu na posse de alma pelos nativos, recomendando que fossem cristianizados. Essa ação serviu de amparo moral ao escravismo e encobrimento do outro.
Missionário, no sentido religioso do termo, é o sujeito incumbido de pregar a Fé. É um trabalho desenvolvido para a conversão dos pagãos. Denomina-se “Missão” a ação de evangelizar os nativos.
Essa conquista espiritual é um processo por demais contraditório. Toda conquista é irracional e violenta, os Jesuítas pregam o amor a uma religião, o Cristianismo, que de uma maneira ambígua tem um fundador que é um crucificado, uma vitima inocente, onde se fundamenta a memória de uma comunidade de crentes, a Igreja, que no tempo do Império Romano foi também vitimada, e por outro, se mostra uma pessoa humana moderna e violenta que pregava um inocente no nativo.
No caso das Missões não as viam como escravizar e sim civilizar. Civilizar significava impregnar o indo com a fé cristã e com os valores da cultura ibérica. Para que esta ação fosse continua, os índios foram reduzidos pelos missionários, ou seja confinados em um determinado espaço denominado redução, aldeia ou pueblo.
Esse trabalho trata de ir ao mito da modernidade e sua origem, onde, desenvolve um mito irracional de justificação da violência que se deve negar e superar.
Os indígenas, que antes eram conquistados pela força das armas, com as missões jesuíticas passam a ser dominados pelo imaginário, onde vêem negados seus próprios direitos, sua própria civilização, sua cultura, seus deuses, em nome de um só Deus, que não é o seu, estrangeiro, e de uma razão moderna que deu aos conquistadores a legitimidade necessária para conquistar.
Os Jesuítas cuidavam do espiritual e do temporal, aproveitando muito dos costumes dos dominados nessa ação. As reduções dos Guaranis floresceram no período barroco, que trazia uma nova visão do universo em movimento, graças às obras de Copérnico e Galileu.
Os autores pós-modernos criticavam a razão moderna porque é uma razão do terror, essa visão critica essa razão por encobrir um mito irracional. Superar a modernidade é o pretendido.
Característica própria da modernidade é criar um mito de sua bondade, civilizador, para justificar sua violência, se declarando inocente pela anulação do outro. Esse imaginário não se fixa na realidade concreta, são objetos-pretextos nos quais os conquistadores exercitam suas projeções, sem se considerar o contexto social do conquistado.
A visão moderna tem perspectiva etnocêntrica, que vê o fato através de só um referencial de comportamentos, reduzindo as atitudes diferentes de se comportar a anomalias, equívocos, atitudes desviantes. Essa perspectiva salienta o fato de que, não se considera o outro em si mesmo, e sim se vê nele.
A tarefa desempenhada por esse trabalho consiste em desenvolver uma teoria, ou filosofia do dialogo que faça parte de uma filosofia da libertação do oprimido, do excluído, do outro. A Filosofia da Libertação parte da posição do oprimido, do excluído (da cultura massacrada e explorada), do fato concreto da História. Trata de mostrar essa possibilidade de dialogo, a partir da afirmação da alteridade e ao mesmo tempo, da negatividade, a partir de sua impossibilidade empírica concreta, pelos menos como ponto de partida de que o dominado possa intervir efetivamente não numa argumentação ou numa conversação, mas num dialogo propriamente racional.
A violência vitimaria e sacrificial pretensamente inocente iniciou seu longo caminho destrutivo. Alianças e tratados nunca cumpridos, exigências de trair sua religião e sua cultura sob pena de morte ou expulsão, ocupação de terras, e todo o tipo de encobrimento do nativo.
Por serem diferentes, é preciso considera-los fora da humanidade? Considera-los como virtualidades de cristãos? Ou devemos questionar a visão que temos da humanidade? Reconhecer que a cultura é plural? Qual deveria ser a posição racional ou ética diante deste fato?
O que seria o encontro de dois mundos, dessas duas culturas? O choque desses mundos elabora um mito de um Novo Mundo, como uma cultura de harmonia entre os dois lados. O que aconteceu no caso, não foi um encontro, mas sim um choque, que devastou a cultura indígena. O conceito de encontro é encobridor porque ocorre ocultando a dominação do “eu” europeu, de seu “mundo”, sobre o mundo do “outro”, no caso, do Jesuíta catequizador sobre o nativo Guarani.
Nenhum encontro pode ser realizado por haver um desprezo total com a cultura e as crenças Guaraníticas. O que ocorre de fato é uma relação assimétrica, onde o mundo do outro é excluído de toda a racionalidade e validade religiosa possível.
É obvio que o resultado do choque entre a cultura transmitida pelos Jesuítas – cultura Ibérica – e a cultura nativa, no caso – a Guarani, tem como resultado uma religião sincrética. O sincretismo ocorre devido a os Jesuítas utilizarem-se de elementos da cultura dos Guaranis, como o idioma, o uso do chimarrão para evitar a embriaguez. Além disso, as tribos Guaranis não foram dispersas, e sim agrupadas em blocos de habitações com seus caciques e sua forma correspondia à casa do clã indígena.
O que se pode constatar com essa dominação , é que nasceu uma cultura nova, sincrética, híbrida, cujo o seu sujeito esta distante de ser o fruto de um processo de síntese cultural, mas sim de um efeito de sua dominação e aculturação.
Texto escrito pela historiadora Patrícia Barboza da silva, aluna do curso de licenciatura da Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
Referencias bibliográfica:
FLORES, Moacyr. Historia do Rio Grande do Sul.Porto Alegre, Nova Dimensão, 1996, 5ª edição.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. Editora Brasiliense, 1994, 8ª edição.
DUSEL, Enrique. Filosofia da Libertação. São Paulo, loyolo-unimp, s/d.
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