Mauá realizou uma série de empreendimentos que estavam à frente de seu tempo.
Até a primeira metade do século XIX, o Brasil tinha grandes dificuldades para assentar o franco desenvolvimento de seu parque industrial. A carência de fontes de energia abundantes, a dispersão dos mercados consumidores, a inexistência de uma indústria de base e a falta de vontade política compunham uma gama de obstáculos que transformava os produtos brasileiros caros e de baixa qualidade. Contudo, a partir de 1840, essa realidade vigente ganhou outros contornos.
No ano de 1844, a criação da Tarifa Alves Branco elevou os impostos alfandegários sobre os produtos provenientes do mercado externo. Apesar de não ter esse objetivo, o imposto se transformou em uma eficiente barreira protecionista que abriu portas para o primeiro surto industrial experimentado na história do Brasil. Paralelamente a esta ação, devemos salientar que a proibição do tráfico negreiro e os lucros obtidos pelo café tiveram grande importância neste processo.
Nessa mesma década, um jovem chamado Irineu Evangelista de Sousa viajava a trabalho para a Inglaterra, berço da Revolução Industrial. Ao observar o acentuado desenvolvimento das indústrias daquele país e a pujança das teorias liberais, Irineu voltou ao Brasil determinado a buscar oportunidades de negócio que orbitavam fora da ordem agroexportadora. Para a época, as suas pretensões estavam bem distantes do pensamento de uma parcela considerável de nossas elites.
De origem humilde, este arrojado empreendedor saiu cedo da cidade de Arroio Grande para, com apenas doze anos de idade, trabalhar em uma loja de tecidos na capital federal. Apresentando grande tino para os negócios, ele logo arranjou outra colocação em uma empresa de importação. Foi nesse momento que Irineu entrou em contato com os valores e a lógica do capitalismo industrial que fervilhava nos centros urbanos ingleses.
Quando chegou ao Brasil, ele decidiu juntar seus recursos financeiros para adquirir uma pequena fundição localizada na região de Ponta da Areia, no Rio de Janeiro. Com o apoio financeiro de seu antigo patrão, Irineu Evangelista conseguiu meios para organizar o maior estaleiro de construção naval de todo o Império Brasileiro. Aproveitando dos bons ventos trazidos pelo surto industrial, seus empreendimentos deram boa resposta e abriram caminho para outras iniciativas.
Em pouco tempo, o próspero empresário criou a Companhia de Rebocadores da Barra do Rio Grande e obteve uma concessão sob o tráfico no rio Amazonas. Paralelamente, sua empresa de siderurgia fabricava lampiões e tubos para a canalização de rios e pontes. No ano de 1851, conseguiu autorização para instalar um serviço de iluminação a gás que se estenderia pelas principais ruas da cidade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, iniciou as obras de construção de uma ferrovia que ligava a capital ao Vale do Paraíba.
Por meio da construção dessas e outras obras ferroviárias, o visionário Irineu conquistou o título de Barão de Mauá. Trabalhador incessante, ele também investiu em uma empresa de bondes puxados por tração animal e na construção de um telégrafo submarino que ligava o Brasil à Europa. Além disso, ele também atuou como financiador com a criação do Banco Mauá & Cia., que chegou a abrir dezenas de filiais no exterior.
Toda euforia experimentada nestas décadas chegaria até certo limite, quando a vigência da ordem agroexportadora entrou em conflito com seus interesses. Em 1857, a sua empresa Ponta da Areia foi alvo de um terrível incêndio. Pouco tempo depois, a vantajosas taxas alfandegárias da Tarifa Alves Branco foram abandonadas. Com o passar do tempo, Barão de Mauá não resistiu à concorrência imposta pelas mercadorias estrangeiras.
A partir de 1875, Mauá abandonou a condição de investidor ao decretar falência e vender as suas propriedades para quitar seu grande volume de dívidas. Em 1877, a Ponta da Areia fechou as suas portas e, no ano seguinte, o governo imperial se negou a prestar auxílio financeiro ao seu banco. Na década de 1880, Mauá abandonou seus empreendimentos e passou o resto de seus dias sobrevivendo como corretor de sacas de café.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
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