A guerra dos sete anos (1756-1763) confirmou a supremacia do império
colonial britânico sobre o francês, que teve de ceder Québec, a
Louisiana e a Índia a seu rival. Jorge III, rei durante sessenta anos,
de 1760 a 1820, neto de seu predecessor, já foi um soberano plenamente
britânico. Ao longo dos reinados de seu bisavô e avô, os whigs dominaram
o Parlamento, enquanto os tories, divididos pela fidelidade de muitos
deles à destronada dinastia dos Stuarts, permaneceram na oposição.
Jorge III desejava governar pessoalmente, pelo que fez uso de todas
as prerrogativas que ainda lhe restavam como rei, e levou
intencionalmente os tories ao poder, uma vez assegurada a sua submissão.
O fracasso, porém, da guerra contra as colônias que constituiriam os
Estados Unidos, a que teve de conceder a independência (Tratado de
Versalhes, 1783), provocou uma reação tão intensa da opinião pública que
o rei não pôde senão renunciar ao regime pessoal com um gabinete dócil e
chamou para o governo William Pitt, conhecido como o segundo Pitt, já
que seu pai, whig, dirigira a política exterior do país por ocasião da
guerra dos sete anos. Aos 24 anos, Pitt desfrutava de uma popularidade
excepcional; reformou seu partido, o dos tories, reduziu a corrupção
parlamentar e reorganizou as finanças.
Guerras napoleônicas
A revolução francesa foi assistida com pavor, do outro lado do canal.
Em fevereiro de 1793 irrompeu a guerra entre a França republicana e a
Grã-Bretanha. A antiga rivalidade comercial e política entre as duas
potências reavivou-se e deu início a um período de lutas quase
ininterruptas até a derrota definitiva de Napoleão em Waterloo, em junho
de 1815. O esforço econômico britânico foi enorme, já que o Reino Unido
financiou sistematicamente seus aliados no continente europeu, sofreu a
perda de mercados devida ao bloqueio continental, decretado por
Bonaparte, e teve de manter uma poderosa esquadra e colossais forças
terrestres.
Ainda assim, conseguiu em Trafalgar (1805), destruir definitivamente
as forças francesa e espanhola, o que transformou os mares de todo o
mundo, como se disse na época, num "lago britânico". Depois de 1808, o
Brasil, ainda colônia portuguesa, e as colônias espanholas_na América
foram abertos ao tráfego de mercadorias britânicas. O Reino Unido
apoderou-se, também, da maior parte das colônias francesas e holandesas
na Ásia, África e América. Quando a estrela de Napoleão se eclipsou, o
Reino Unido era já árbitro da Europa e dono de boa parte do resto do
mundo.
Revolução industrial
Antes que em qualquer outro país, produziu-se na Grã-Bretanha o
fenômeno econômico que foi chamado de "revolução industrial" e que
consistiu na passagem de uma forma de elaboração de bens artesanal e em
pequena escala, próprio das sociedades antigas, para um processo de
produção em massa com custos muito inferiores, característico dos tempos
modernos. Ocorreram na Grã-Bretanha as condições ideais para que isso
ocorresse, pois o capital acumulado pelo comércio em todo o mundo ficou
nas mãos de classes altas e médias ainda muito influenciadas pelo
puritanismo e que, em vez de malbaratá-lo ou investi-lo em bens
suntuários, puderam aplicá-lo no sistema produtivo, para financiar os
novos processos idealizados ao longo do século XVIII.
A circunstância de ser o subsolo britânico rico em carvão propiciou a
construção de altos-fornos que utilizavam coque, enquanto o resto da
Europa continuava a obter ferro com fornos artesanais de carvão de
lenha. O ferro e aço baratos permitiram a criação da máquina a vapor
(James Watt, 1769), que, esgotados os escassos recursos hidráulicos
disponíveis na planície inglesa, proporcionou a força adequada para
impulsionar os novos teares semi-automáticos do final do século, assim
como para promover os transportes (barcos e trens a vapor), no princípio
do século seguinte.
No campo, o cercamento praticamente completo de todos os terrenos
motivou a ruína dos pequenos camponeses, que tiveram de vender suas
terras aos grandes proprietários e emigrar para as cidades, onde
engrossaram a reserva de mão-de-obra barata para a indústria nascente.
Os grandes proprietários também passaram a ver suas terras como unidades
produtivas de cunho industrial e dedicaram-se à melhoria sistemática de
espécies agrícolas e pecuárias. Experimentaram novos sistemas de
rotação das culturas e máquinas que lhes fizeram multiplicar a
produtividade, numa espécie de revolução agrária. Em resumo, o avanço
econômico e tecnológico de meio século em relação à Europa continental
permitiu ao Reino Unido triunfar sobre Napoleão e transformar-se em
potência hegemônica mundial.
A escandalosa vida privada e a índole autoritária de Jorge IV, rei de
1820 a 1830, debilitaram o prestígio da monarquia. A falta de
representatividade no Parlamento tornou-se insustentável, a miséria da
crescente classe operária acentuou-se e somente as revoluções que em
1830 irromperam no continente mobilizaram a parte mais lúcida da minoria
whig dirigente para empreender uma reforma das leis eleitorais, que se
realizou em 1832.
Poucos anos antes haviam sido suspensas as restrições que pesavam
sobre os católicos. A partir da reforma estiveram representadas no
Parlamento, junto às classes altas, boa parte das classes médias, embora
de modo algum os operários e camponeses, que constituíam a grande
maioria da população. Foi nessa fase que os whigs começaram a
denominar-se liberais, e os tories, conservadores. Guilherme IV, que
reinou entre 1830 e 1837, embora pouco dotado de qualidades pessoais,
prestou-se melhor que seu pai às reformas liberalizantes.
Era vitoriana
Os primeiros anos do longo reinado de Vitória -- de 1837 a 1901 -- se
caracterizaram por ásperas cisões sociais e grande depressão econômica,
além do aparecimento de várias organizações extra-parlamentares, entre
elas a que formaram os cartistas, responsáveis pela agitação social
ocorrida no país entre 1838 e 1850. A tudo e a todos, porém, soube
enfrentar a rainha, que acabou por conduzir a Inglaterra a um clima de
esplendor jamais visto em toda a sua história. Em 1876 ela adotou o
título de imperatriz da Índia.
O império colonial, dividido pelo Mediterrâneo, Ásia, África, América
e Oceania, ergueu-se como um sistema econômico sólido -- a espinha
dorsal, então, do capitalismo moderno --, que pulsava ao compasso do
poderoso coração da metrópole, cada vez mais rica e industrializada.
O livre-cambismo foi progressivamente implantado depois da abolição,
em 1846, das Leis do Trigo, que se revelou benéfica para a indústria, ao
baratear a alimentação da classe operária. A Grande Exposição de 1851,
bem como os jubileus de 1887 e 1897, mostraram ao mundo a nova face do
império britânico, potência industrial e colonialista, cuja influência
se estenderia a todos os continentes. Sucessivas reformas eleitorais
levaram ao sufrágio universal masculino no final do século, ao mesmo
tempo que desde 1870 a escolarização se tornou obrigatória. Benjamin
Disraeli e William Ewart Gladstone, chefes respectivamente dos partidos
Conservador e Liberal, revezaram-se no poder durante longo período.
Século XX: primeira guerra mundial
A morte da rainha Vitória deu lugar ao reinado de Eduardo VII,
soberano de 1901 a 1910. Lentamente, o papel hegemônico do Reino Unido
no mundo começou a ser desafiado por duas novas potências de rápido
desenvolvimento, os Estados Unidos e o império alemão. Nos primeiros
anos do século XX os movimentos feministas ganharam força no país e
criaram-se novas leis sociais que limitavam a duração do trabalho e
concediam benefícios e pensões.
Surgiu um forte debate sobre os projetos do governo liberal no
sentido de criar uma contribuição tributária progressiva. O triunfo dos
liberais, em 1911, marcou a divisão de poderes da Câmara dos Lordes
(mediante o Estatuto do Parlamento), que praticara todos os tipos de
manobras de obstrução.
Os sindicatos tornaram-se cada vez mais poderosos e, às vésperas da
primeira guerra mundial, o Partido Trabalhista começou a influir
decisivamente no jogo político. A Eduardo VII, sucedeu Jorge V
(1910-1936).
Em 4 de agosto de 1914 o Reino Unido declarou guerra à Alemanha. Os
triunfos iniciais dos alemães obrigaram ao envio de milhões de
britânicos à frente francesa, enquanto a esquadra inglesa se viu em
dificuldades para controlar os oceanos devido à guerra submarina
praticada pela Alemanha. Medidas de austera política econômica e
controle governamental, inimagináveis anos antes, foram postas em
prática.
De 1915 em diante, formou-se um governo de coalizão composto de
conservadores, liberais e trabalhistas. A partir de 1916 tornou-se de
fato obrigatório o serviço militar, que fora tradicionalmente
voluntário, e em 1917 foi decretado o racionamento. Vencedor da guerra, o
Reino Unido viu-se ao final desta muito enfraquecido, com enormes
dívidas para com os Estados Unidos e ultrapassado por estes na qualidade
de potência mundial.
Período de entreguerras
A rebelião da Irlanda, em 1916, obrigou o Reino Unido a enfrentar o
problema da ilha desde o fim da guerra. Dividida em duas partes, em 1921
a maior delas converteu-se no Estado Livre da Irlanda, primeiro sob a
soberania nominal da coroa britânica e mais tarde como república
independente. A recessão do pós-guerra elevou o número de desempregados,
que chegou a mais de dois milhões e meio. Em 1924 assumiu o poder uma
coalizão de liberais e trabalhistas, dirigida por James Ramsay
MacDonald, que empreendeu diversas reformas sociais, mas foi logo
desalojada pelo governo de Stanley Baldwin, conservador, cujo empenho em
devolver à libra o padrão-ouro de antes da guerra originou uma queda
dos salários e ampla greve geral.
Em 1931, por causa da crise econômica mundial, um governo de liberais
e trabalhistas abandonou definitivamente o padrão-ouro. A criação da
Comunidade Britânica de Nações (British Commonwealth of Nations, ou
simplesmente Commonwealth) estava relacionada com a tentativa de formar
um mercado fechado a outros países por uma barreira protecionista.
Eduardo VIII (1936) preferiu abdicar para se casar com uma americana
divorciada e foi sucedido por Jorge VI, rei de 1936 a 1952. Novos
governos conservadores (ministérios Baldwin, 1935-1937, e Neville
Chamberlain, 1937-1940) sucederam-se até o começo da segunda guerra
mundial.
A política de pacificação levada a cabo pelo primeiro-ministro
Chamberlain nos acordos de Munique, em 1938, não pôde conter as ânsias
expansionistas da Alemanha nacional-socialista, que no ano seguinte
invadiu a Polônia, desencadeando a guerra.
Segunda guerra mundial
Depois de um ano de imobilidade nas várias frentes, a Alemanha
empreendeu uma ofensiva repentina que envolveu as tropas aliadas. A
França pediu o armistício e o Reino Unido permaneceu, mal armado,
sozinho frente à potência totalitária que dominava o continente europeu.
Um gabinete de unidade natural, presidido por Winston Churchill,
conseguiu, com a ajuda material dos Estados Unidos, conter Adolfo Hitler
até que este atacou também a União Soviética, em junho de 1941. Foram
os tempos da dura resistência, sustentada sobretudo pelos heróis da
Royal Air Force (RAF), na "batalha da Inglaterra".
No final de 1941, dois novos fatores mudaram o rumo da guerra, em
prejuízo da Alemanha: o início da resistência soviética e a entrada dos
Estados Unidos no conflito. Apesar do reforço japonês, os aliados
derrotaram os alemães, mas o Reino Unido, embora vitorioso, pagara um
preço elevadíssimo em perdas econômicas e humanas. Londres e outras
cidades ficaram parcialmente destroçadas pelos bombardeios, e a
autoridade britânica, no império, se enfraquecera.
O Reino Unido depois da segunda guerra mundial
Nas eleições de 1945, triunfou o Partido Trabalhista. O governo de
Clement Attlee (1945-1951) instaurou com rapidez o "estado do bem-estar"
(welfare state), bastante ambicioso: redistribuiu a renda e, em 1947,
concedeu a independência à Índia e ao Paquistão.
No princípio da década de 1950, com a ajuda dos Estados Unidos, o
sistema econômico britânico já estava completamente restabelecido. O
Reino Unido aderiu ao Conselho da Europa, ao Tratado de Bruxelas e à
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), sempre como aliado, em
tudo, dos Estados Unidos.
As eleições de 1951 levaram ao poder os conservadores, que o mantiveram
até 1964, e em 1952 a rainha Elizabeth II, filha de Jorge VI, ascendeu
ao trono. Presidiram os sucessivos gabinetes Winston Churchill
(1951-1955), Anthony Eden (1955-1957), Harold MacMillan (1957-1963) e
Alexander Douglas-Home (1963-1964).
O Reino Unido orientou sua política externa de costas para a Europa,
empreendeu uma política de rearmamento com a aquisição da bomba atômica
em 1955 e não se integrou então à Comunidade Econômica Européia (CEE),
criada pelo Tratado de Roma em 1957. Os tempos de grandeza e isolamento,
no entanto, já se haviam passado.
O rápido crescimento econômico dos países da Europa continental logo os
fez alcançar e sobrepujar os níveis alcançados pela economia britânica.
Uma tentativa tardia de incorporação à CEE foi frustrada pela oposição
do presidente francês Charles de Gaulle. Em 1964, os trabalhistas,
liderados por Harold Wilson, subiram ao poder.
A situação econômica que Wilson tinha de enfrentar era inquietante.
O Reino Unido já estava sendo chamado "o doente da Europa"
As enérgicas medidas econômicas não bastaram para erguer a economia
britânica, e os conservadores, liderados por Edward Heath, em 1970
assumiram de novo o poder. Heath conseguiu a admissão do Reino Unido,
junto com a Irlanda e a Dinamarca, na CEE, em janeiro de 1973. A partir
de 1969, expandiu-se um forte movimento terrorista na Irlanda do Norte
(Ulster), cuja situação obrigou o Parlamento britânico a assumir o
governo direto da região em 1972. O problema irlandês e a crise
econômica levaram de novo ao poder o Partido Trabalhista, em fevereiro
de 1974. Harold Wilson demitiu-se em março de 1976 e seu companheiro de
partido James Callaghan ocupou-lhe o lugar.
As eleições de 3 de maio de 1979 deram de novo o leme aos
conservadores, encabeçados por Margaret Thatcher, primeira mulher a
ocupar a chefia de governo na história britânica. Thatcher pôs em marcha
uma política liberal: reduziu os impostos, ampliou a margem de atuação
da iniciativa privada e limitou alguns serviços sociais. Em 1981, o
Partido Trabalhista dividiu-se, o que fez surgir o novo Partido Social
Democrático, posteriormente aliado ao bastante fragilizado Partido
Liberal. Em 2 de abril de 1982 o governo militar argentino levou a
efeito uma tentativa de recuperar as ilhas Malvinas (Falkland) e outros
arquipélagos menores do Atlântico sul em poder do Reino Unido.
A reação britânica foi dura
Em junho daquele ano a frota e os fuzileiros enviados para a região
impuseram a rendição dos soldados argentinos deslocados para as ilhas. O
conflito, que se desenrolou principalmente em confrontos navais, causou
a morte de mais de mil militares argentinos e 250 britânicos. A euforia
nacionalista que se seguiu foi aproveitada por Thatcher para convocar
novas eleições, que seu partido ganhou por ampla maioria. Cinco anos
depois, o triunfo conservador nas eleições realizadas em 11 de junho de
1987 fez de Margaret Thatcher o primeiro estadista britânico capaz de
vencer três eleições consecutivas. Thatcher, chamada "a dama de ferro",
perdeu terreno nos anos seguintes, por causa do caráter recessivo de sua
política econômica e fiscal.
Quando, em 1990, foi derrotada no primeiro turno das eleições
internas de seu partido, renunciou ao cargo e o lugar de
primeiro-ministro passou para seu correligionário, John Major, que
enfrentou tanto uma áspera agitação social, sobretudo em 1992, como o
recrudescimento do terrorismo por parte do Exército Republicano Irlandês
(IRA) contra os unionistas da Irlanda do Norte. Contudo, Major se
manteve no poder com a vitória de seu partido nas eleições de abril de
1992.
Em 1993 o Partido Conservador, dividido, acabou por aprovar o Tratado
de Maastricht, em torno da união européia, e, em 1994, Major entrou em
acordo com a Irlanda sobre o direito de a Irlanda do Norte decidir sobre
seu futuro. No final de agosto, o IRA manifestava sua histórica decisão
de suspender a luta armada e o unionismo fez progressos inesperados.
Instituições políticas
O Reino Unido é uma monarquia constitucional hereditária e uma
democracia parlamentar. A constituição está só parcialmente expressa em
textos escritos, e é flexível, como o prova sua lenta e pacífica
modificação ao longo de séculos. A chefia do estado cabe ao monarca, e a
do governo, ao primeiro-ministro, que é o chefe do partido político que
tenha conseguido a maioria da Câmara dos Comuns.
A soberania cabe ao Parlamento, composto pela coroa, pela Câmara dos
Lordes e pela Câmara dos Comuns. A separação de poderes não é radical,
como em outros sistemas, já que a maioria parlamentar a que pertence o
primeiro-ministro costuma portar-se de modo sumamente disciplinado
quanto a seu voto. O monarca tem a faculdade de nomear
primeiro-ministro, mas ao longo de quase três séculos tem-se limitado a
atribuir esse cargo ao líder da maioria parlamentar.
O primeiro-ministro nomeia cerca de uma centena de colaboradores
entre os membros das câmaras pertencentes a seu partido. Destes, um
número restrito forma parte do gabinete, outros comparecem às reuniões
do gabinete em ocasiões em que se tratará de temas de sua competência, e
um número ainda maior forma o grupo dos chamados junior ministers, com
cargos menos importantes, e sem acesso às reuniões do gabinete. O
primeiro-ministro, além de presidir o gabinete, informa semanalmente ao
monarca sobre a marcha dos assuntos de estado e prepara o discurso da
coroa, que o rei pronuncia na sessão de abertura do Parlamento.
Para que uma lei possa entrar em vigor, tem de contar com a aprovação
das duas câmaras e do monarca. Depois de sofrer sucessivos cortes em
seus poderes, porém, a Câmara dos Lordes não pode fazer mais do que
retardar a entrada em vigor de uma lei aprovada pelos Comuns, e não se
concebe que o monarca se negue a assinar uma lei aprovada pelo
Parlamento.
A Câmara dos Lordes compreende mais de 1.200 membros, alguns
hereditários e outros vitalícios. A Câmara dos Comuns exerce o
verdadeiro poder dentro do Parlamento, embora na prática suas
atribuições legislativas tenham sido reduzidas pela crescente
preponderância do primeiro-ministro e seu gabinete, que exercem a
iniciativa legislativa na maior parte dos casos. Seus 651 membros são
eleitos, em geral a cada cinco anos, em circunscrições uninominais, o
que tem o efeito de concentrar o poder em uns poucos partidos.
O Reino Unido tem vivido, ao longo de séculos, sob um regime
praticamente bipartidário. O monarca pode dissolver a Câmara dos Comuns
antes de se cumprir o prazo máximo de cinco anos, mas na prática é o
primeiro-ministro quem exerce tal poder. As instituições judiciais
britânicas são bastante diferentes das existentes no resto do continente
europeu. As resoluções judiciais baseiam-se fundamentalmente no direito
consuetudinário (common law), estabelecido pela jurisprudência
anterior. O mais alto tribunal de recursos do reino é constituído pela
Câmara dos Lordes e, particularmente, por nove lordes nomeados por
convocação. Princípios jurídicos que se tornaram universais, como o
habeas-corpus, foram aplicados pelos tribunais britânicos antes que em
qualquer outro país. O princípio da segurança jurídica do indivíduo foi
adotado, no Reino Unido, quando no resto da Europa imperavam monarquias
absolutas.
Sociedade
Nível de vida e classes sociais. O Reino Unido é um país
desenvolvido, de economia de mercado. A distribuição da renda, que em
princípios do século XX era muito desigual, passou por um período de
nivelamento depois da segunda guerra mundial e, na segunda metade do
século, apresentava menores desigualdades que na maior parte da Europa
ocidental, o que não impediu um "êxodo de talentos", principalmente para
os Estados Unidos, onde cientistas e dirigentes de empresas obtinham
melhor remuneração.
A renda média dos britânicos, embora tenha aumentado de forma
constante desde a segunda guerra mundial, não cresceu no mesmo ritmo dos
demais países da Europa ocidental. No fim da década de 1980, chegou
mesmo, pela primeira vez, a ser inferior à italiana e ainda abaixo de
dois terços da alemã ou da francesa. A qualidade de vida, contudo, é
elevada, como resultado da preocupação com o meio ambiente, do elevado
nível das tradições culturais e outras razões semelhantes.
Embora as distâncias econômicas entre as classes tenham diminuído
sensivelmente depois da segunda guerra mundial, continuava a existir
certo classismo social, que se manifesta na particularidade dos
diferentes sotaques das diversas camadas sociais e culturais. A
importância social que o sotaque ainda possui no Reino Unido é difícil
de ser entendida pelos não-britânicos.
Os poderosos sindicatos britânicos estão organizados no Trade Unions
Congress, que em meados do século XX conseguiu uma significativa
influência política, embora seu poder tendesse a diminuir durante o
governo de Margaret Thatcher. A maior parte dos sindicatos está ligada
ao Partido Trabalhista. A Confederação da Indústria Britânica
(Confederation of British Industry, CBF) agrupa um grande número de
organizações empresariais. Existem também numerosos tribunais e comitês
de conciliação e arbitragem.
Saúde e assistência social
O sistema de assistência médica e previdenciária do estado é muito
desenvolvido. Foi no Reino Unido que teve origem o conceito de estado do
bem-estar. Em 1948 fundou-se o Serviço Nacional de Saúde, que
proporciona cuidados médicos, hospitalização, remédios etc., na maior
parte dos casos completamente gratuitos, a todos os cidadãos britânicos.
Nada menos que 98% dos médicos do país encontram-se incorporados pela
saúde pública, embora existam consultórios e clínicas particulares.
O sistema de seguridade social também é muito abrangente e
proporciona aposentadorias, subsídios de desemprego etc. As autoridades
locais estão obrigadas por lei a proporcionar habitações em condições
mínimas para os habitantes de suas jurisdições, e grande número de
britânicos vive em moradias de aluguel construídas pelas autoridades
municipais e subvencionadas em parte pelo estado. O costume de
socializar o solo urbano favoreceu preços relativamente baixos.
Sistema educacional
O ensino é obrigatório e gratuito entre os 5 e 16 anos de idade.
Numerosos centros de ensino privado coexistem com os públicos. Cerca de
um terço dos britânicos tem acesso ao ensino superior, o que faz do
Reino Unido um dos países de maior nível educacional do mundo. O
analfabetismo praticamente não existe e o índice de leitura de livros e
publicações periódicas é bastante alto. Entre os centros de ensino
superior, sobressaem as antigas universidades de Oxford e Cambridge.
Religião
De forma aproximada, pode-se dizer que a Inglaterra é
majoritariamente anglicana, a Escócia, presbiteriana, e Gales,
metodista, enquanto na Irlanda do Norte predominam as várias
denominações protestantes sobre os católicos. Há, contudo, minorias
importantes de outras confissões cristãs nos quatro países. A Igreja
Católica possui força e prestígio ela pertencem 10% dos habitantes do
Reino Unido.
Os anglicanos somam um pouco mais de 50%. As religiões não-cristãs
contam com uma quantidade de adeptos bem menor que as cristãs. A
comunidade judaica é numerosa nas grandes cidades, enquanto muçulmanos e
hindus contam-se em bom número entre os imigrantes recentes. Uma grande
parcela da população declara-se agnóstica.
Cultura
Poucos países têm legado ao acervo cultural da humanidade uma
contribuição tão importante como a que proporcionaram os pensadores
britânicos. Talentos como Thomas Hobbes, Thomas Moore e John Stuart Mill
em ciências políticas, Adam Smith, David Ricardo, John Maynard Keynes
em economia, e Francis Bacon, Isaac Newton, John Locke, George Berkeley,
David Hume e Bertrand Russell na matemática, nas ciências e na
filosofia, são só uma pequena parte da relação de pensadores universais
que nasceram no Reino Unido. Geoffrey Chaucer, William Shakespeare, John
Milton, Jonathan Swift e muitos outros fizeram da literatura britânica
um dos maiores tesouros da cultura universal.
Música
Desde suas origens, o Reino Unido prestigiou a criação musical.
Compositores significativos já apareceram no século XIV, tempo da ars
nova, como no caso de John Dunstable. Nos séculos XVI e XVII, de alta
música religiosa e madrigalista, imortalizaram-se figuras como William
Byrd, Thomas Morley, John Dowland e Henry Purcell, fundador da ópera
inglesa. O italianismo, no século seguinte, provocou a célebre reação
nacionalista da ópera-balada, de que é exemplo The Beggar's Opera (A
ópera do mendigo) de John Christopher Pepusch e John Gay, contrapartida
satírica à presença do gênio de Haendel, magnificamente bem-sucedido na
Grã-Bretanha.
Na primeira metade do século XIX, é importante a personalidade de John
Field, sobretudo no desenvolvimento da música para piano. Do fim do
século XIX em diante, o panorama se enriqueceu com a light opera de
Arthur Sullivan, cujo nome está ligado ao de William Gilbert, com a obra
orquestral e coral de Edward Elgar, o impressionismo de Frederick
Delius e a vasta atividade criadora de Vaughan Williams.
A modernidade, algo metafísica na fantasia astral de Gustav Holst, e
elegíaca na música de câmara de Frank Bridge atinge um fascínio
crescente na obra vocal e instrumental de Benjamin Britten, sobretudo em
sua ópera Peter Grimes (1945).
Arquitetura
A invasão normanda do século XI levou para a ilha os estilos
artísticos do continente. Construíram-se numerosas igrejas e catedrais
românicas, de estreita semelhança com as que pouco antes se haviam
erguido na Normandia francesa. Salientam-se, entre estas, as catedrais
de Gloucester, Norwich e Durham. Logo se começaram a construir abóbadas
de ogivas cruzadas e desenvolveu-se o estilo gótico, no início muito
semelhante ao do norte da França, mas que a partir do século XIII
(catedral de Salisbury) começou a ganhar características peculiares,
como o gosto por abóbadas estreladas de grande complexidade de formas e,
principalmente, o acentuado sentido de verticalidade.
A nave da capela do King's College, de Cambridge, a capela do New
College de Oxford e a capela do Rei na abadia de Westminster são
amostras representativas do gótico inglês. A paixão dos arquitetos
britânicos pelo estilo gótico, então, tornou-se tradicional. Em meados
do século XVI desenvolveu-se o estilo Tudor, que, sem abandonar as
estruturas góticas, incorporou elementos renascentistas.
No século XVII triunfaram, com grande atraso em relação ao
continente, as formas arquitetônicas neoclássicas, que se mantiveram
simples e despojadas, já que o barroco europeu contemporâneo apenas
penetrou na Grã-Bretanha. Sir Christopher Wren foi autor de grande
número de edificações na Londres que teve de reconstruir depois do
grande incêndio de 1666. A catedral de São Paulo, de Londres, com
magnífica cúpula e um pórtico dórico, é a obra mais representativa da
época. O século XVIII também encaminhou as preferências para o gosto
clássico. Numerosos edifícios e palácios inspiraram-se nos trabalhos de
Andrea Palladio.
O século XIX conheceu uma arquitetura eclética, com numerosas
edificações de estilo neoclássico e uma renovação da tradição gótica, de
que é exemplo o edifício do Parlamento. Mais que a arquitetura, porém,
foi a engenharia britânica que brilhou nesse século, com o emprego de
novos materiais e a realização de obras públicas gigantescas. O palácio
de Cristal e as grandes pontes metálicas são criações estupendas da
época vitoriana.
Pintura. Nos séculos XVI e XVII não houve pintores nem escultores
britânicos de destaque. As obras culminantes na pintura do primeiro
período foram os retratos de Hans Holbein o Jovem, e no segundo, os de
Antoon van Dyck, ambos estrangeiros. No século XVIII, contudo, ocorreu o
nascimento de uma escola pictórica verdadeiramente britânica: William
Hogarth, Joshua Reynolds, Thomas Gainsborough e Richard Wilson foram os
grandes nomes da época.
Os três primeiros continuaram a tradição britânica do retrato, e os
dois últimos criaram uma escola de paisagística. William Turner e John
Constable seriam os grandes paisagistas britânicos do século XIX,
sobressaindo o primeiro como precursor do impressionismo. Por volta de
1850 irrompeu o grupo de pintores pré-rafaelitas, que introduziram em
suas obras uma carga de simbolismo inspirado muitas vezes no primeiro
Renascimento italiano. Entre eles encontravam-se Dante Gabriel Rossetti,
John Everett Millais e William Holman Hunt. Edward Burne-Jones, William
Morris e Aubrey Breadsley, já no fim do século, são considerados
modernistas. Morris fundou em 1861 o movimento Arts and Crafts, que
renovou profundamente as artes decorativas.
Durante o século XX, as artes plásticas britânicas permaneceram
geralmente à margem das vanguardas internacionais até os últimos
decênios. As revoluções estéticas iniciadas pelo cubismo foram mais
tarde recebidas nas ilhas. Figuras de expressão indiscutível na
escultura, contudo, foram Barbara Hepworth, Henry Moore e Reg Butler. Na
pintura, distinguiram-se ainda nomes como Augustus John, Ben Nicholson,
Paul Nash, Sir Stanley Spencer, Graham Sutherland, Francis Bacon, David
Hockney e muitos outros.
Cinema. Londres foi uma das cidades em que o cinema deu seus primeiros
passos. Depois da fase do pioneirismo, de Robert William Paul,
George-Albert Smith e James Williamson, seguiu-se um período de
influência fortemente teatral, histórica e literária, marcado, já, pela
penetração do cinema americano.
A paisagem social e humana do Reino Unido só se firmou nas telas a
partir dos documentários do escocês John Grierson e outros diretores.
Depois da segunda guerra mundial, o drama, no cinema, já se mostrou
propriamente inglês sob a direção de David Lean, John Boulting ou
Anthony Asquith. Com as comédias da companhia Ealing ou o retorno à
dramaturgia, embora de excelente qualidade, o cinema inglês não se
renovou, o que só aconteceu a partir da década de 1950, com cineastas
como Lindsay Anderson, Karel Reisz, Jack Clayton e Tony Richardson --
realizador de Tom Jones (1963). Entre outros cineastas surgidos depois,
destacaram-se John Schlesinger, Bryan Forbes, Desmond Davis, Ken Russell
e Richard Lester. O maior cineasta britânico do período foi, porém, o
americano Joseph Losey.
Essa é a parte de nosso blog onde você pode estudar para a escola e ficar atualizado nos conhecimentos gerais!!!
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