Inglaterra normanda
Eduardo, último rei saxão, era homem virtuoso, porém fraco. Mais
preocupado com a salvação de sua alma do que com o destino do reino,
educado na Normandia e grato pelo acolhimento recebido durante o domínio
dinamarquês, prometeu o trono da Inglaterra a seu primo, o duque
Guilherme o Bastardo, depois Guilherme o Conquistador. A mesma promessa
teria sido feita a Sweyn II da Dinamarca e a Haroldo, filho de Godwin,
conde de Wessex e Kent.
Com a morte de Eduardo em 1066, o conselho de sábios decidiu entregar
a coroa a Haroldo, de preferência ao jovem Edgard Atheling, neto de
Edmundo Ironside. Guilherme da Normandia reivindicou imediatamente a
sucessão ao trono britânico. Moveu campanha em toda a Europa, sobretudo
em Roma, acusando "seu vassalo" Haroldo de arrebatar-lhe "uma coroa
prometida pelo soberano desaparecido", em violação das leis feudais e de
um juramento solene.
O papa, a quem o duque normando prometera a reforma da igreja na
Inglaterra, segundo as idéias de Hildebrando (papa Gregório VII),
abençoou a empresa. A célebre tapeçaria de Bayeux, atribuída à rainha
Matilde, mulher de Guilherme, mostra como florestas foram abatidas para
construir os 750 navios necessários ao transporte de 12.000 a 15.000
homens, recrutados em toda a França, sob promessa de terras na
Inglaterra e recompensas financeiras.
Haroldo foi morto na batalha de Hastings, e Guilherme o Conquistador foi
coroado rei da Inglaterra em Westminster, em 25 de dezembro de 1066.
Com ele começou a governar o país uma dinastia normanda, de cultura e
língua francesas, com grandes possessões territoriais no continente
europeu, o que haveria de conduzir à intervenção da coroa inglesa nos
assuntos da França durante séculos.
Plantagenetas, casas de Lancaster e York
Estabeleceu-se na Inglaterra um eficaz sistema administrativo
centralizado e instaurou-se um feudalismo de amplitude continental. O
monarca Henrique II, da casa de Anjou, conquistou a Irlanda na segunda
metade do século XII. Teve início, em sua época, uma sucessão de
conflitos entre a coroa, a nobreza e o alto clero. Thomas à Becket,
arcebispo de Canterbury, foi assassinado por ordem de Henrique. Os
nobres obrigaram seu filho, João Sem Terra, a outorgar em 1215 a Magna
Carta, que se considera tradicionalmente como o ponto de partida das
liberdades e do sistema parlamentar inglês.
No final do século XIII, Eduardo I apoderou-se de Gales. Instituiu o
título de príncipe de Gales, que ainda corresponde ao de herdeiro da
coroa britânica, e iniciou as primeiras reuniões de um corpo
deliberativo, integrado por nobres, funcionários do Tesouro e
representantes dos diversos condados, que se denominou "parlamento
modelo", germe da moderna instituição. Também tentou apoderar-se da
Escócia, mas a resistência de seus habitantes conseguiu garantir a
independência do país.
Em 1337 começou a guerra dos cem anos, que se prolongaria, com
escassos períodos de trégua, até 1453. Os poderosos reis ingleses,
senhores de grandes domínios continentais, enfrentaram o rei da França,
com sorte diversa. A guerra desenvolveu-se no continente e, ao seu
final, os ingleses viram-se expulsos dali. A partir de então acentuou-se
a insularidade do país e fortaleceu-se o nacionalismo inglês.
A corte deixou paulatinamente de utilizar o idioma francês e desde
1362 os procedimentos judiciais começaram a desenvolver-se em língua
inglesa. Geoffrey Chaucer, nos Canterbury Tales (Contos de Canterbury),
escritos entre 1390 e 1400, deu dimensão literária ao idioma do povo,
atestando que este se impunha sobre o da nobreza normanda.
Em 1455 começou um período turbulento, de quase permanente guerra
civil ao longo de trinta anos. Foi a guerra das duas rosas, entre a casa
de Lancaster e a de York, que deixou a Inglaterra exaurida. A
entronização, em 1485, de Henrique VII, fundador da dinastia Tudor,
restabeleceu a unidade do país.
Absolutismo Tudor. Depois de derrotar Ricardo III na batalha de
Bosworth Field (1485), Henrique Tudor, conde de Richmond, inaugurou a
dinastia Tudor, com o nome de Henrique VII. Durante seu reinado, de 1485
a 1509, mostrou-se autoritário e prudente, transformou a Inglaterra num
país próspero e favoreceu a classe emergente dos comerciantes e
armadores.
Seu filho Henrique VIII, soberano de 1509 a 1547, foi, além de excelente
político, um extraordinário poeta e músico. Ante a Reforma religiosa
que abalava a Europa, definiu-se a princípio favorável a Roma. Mais
tarde, quando o papa se negou a conceder-lhe o divórcio de Catarina de
Aragão, erigiu-se em chefe da Igreja da Inglaterra, cisma sancionado em
1534 pelo Estatuto de Supremacia. Os mosteiros foram suprimidos e seus
bens confiscados em favor da coroa. As execuções de luteranos (tidos
como hereges) e de católicos (como traidores à coroa) sucederam-se em
seu reinado.
Os três filhos que Henrique teve com três esposas diferentes reinaram
na Inglaterra. Eduardo VI (1547-1553), por sua pouca idade, apenas pôde
intervir nas tarefas do governo. Maria I (1553-1558) restabeleceu o
catolicismo e perseguiu com violência os protagonistas do cisma
anterior, pelo que recebeu o nome de Maria a Sanguinária (Bloody Mary).
No mesmo ano de sua morte, a França apoderou-se de Calais, o último
local do continente em poder da Inglaterra.
Período elisabetano
Elizabeth I (1558-1603), filha de Henrique VIII e de Ana Bolena,
rechaçou de novo o catolicismo. Reformou a Igreja da Inglaterra e
aproximou-a do protestantismo. Com isso conquistou a simpatia da
burguesia cada vez mais poderosa e o apoio decidido da nobreza
latifundiária, que enriquecera com os bens confiscados a conventos e
mosteiros.
O Parlamento não opôs obstáculos às ambições da rainha, que
coincidiam com as da maioria dos parlamentares. A Lei dos Trinta e Nove
Artigos, em 1563, deu forma definitiva à Igreja Anglicana.
Ao longo do reinado de Elizabeth I, a Inglaterra transformou-se em
adversária do poder espanhol, cujas colônias americanas começaram a ser
atacadas por navios ingleses. Os comerciantes londrinos fizeram da
capital inglesa um empório econômico de primeira grandeza. A cobiçada lã
inglesa, antes exportada para a manufatura em Flandres, passou a ser
trabalhada na ilha. Começaram a surgir poderosas empresas comerciais,
como a Companhia das Índias.
Nessa etapa, o rei espanhol Filipe II, em várias ocasiões, tentou
derrubar Elizabeth, mediante o apoio às facções católicas dispostas a
destronar a rainha, mas fracassou nesse intento. Em revanche, Elizabeth
favoreceu abertamente a rebelião dos Países Baixos contra o monarca
espanhol, que tentou a invasão das ilhas Britânicas com a Invencível
Armada. Sua destruição, em 1558, pelos navios ingleses, mais leves e
manobráveis, marcou o princípio do declínio do império espanhol.
Os Stuarts e as revoluções inglesas
Quando Elizabeth I morreu sem deixar descendentes diretos, herdou o
trono da Inglaterra o rei da Escócia, Jaime VI Stuart, que tomou o nome
de Jaime I da Inglaterra (1603-1625). A partir de 1603, os quatro países
britânicos -- Inglaterra, Irlanda, Gales e Escócia -- ficaram unidos
politicamente sob a mesma coroa, embora o Parlamento inglês e o escocês
só se unificassem em 1707.
Jaime I começou seu reinado seguindo os passos de Elizabeth. A partir de
1611, porém, suas relações com o Parlamento ficaram bastante tensas.
Seu filho Carlos I (1625-1649), que manifestou abertamente tendências
absolutistas, também logo perdeu o favor do Parlamento. Empenhado em
unificar religiosamente o país sob a Igreja Anglicana, teve de enfrentar
a rebelião da Escócia, que era quase totalmente presbiteriana. Depois
da derrota das tropas reais em Newburn, em agosto de 1640, Carlos I
precisou convocar o "Parlamento longo", com o objetivo de reunir fundos
para preparar novo exército.
O Parlamento, então, ergueu-se diante do rei, a quem apresentou em junho
de 1642 as Dezenove Propostas, cuja aceitação teria significado, para
Carlos I, a perda de todo o poder. A negativa do rei deu início a uma
guerra civil entre a coroa e o Parlamento, que terminou com a derrota e a
prisão do monarca. Condenado por alta traição, ele foi executado em 30
de janeiro de 1649.
Instaurou-se um regime de soberania parlamentar, denominado
Commonwealth, durante o qual se promulgou o Estatuto de Navegação (1651)
que, ao obrigar a realização do comércio britânico com navios
britânicos, impôs o crescimento da frota própria, e prejudicou a similar
holandesa. Oliver Cromwell, o homem que organizara o exército do
Parlamento e forçara a execução de Carlos I, era o verdadeiro dono do
poder. A partir de 1653 transformou-se em ditador e dissolveu o
Parlamento.
Com a morte de Cromwell, em 1658, sucedeu-lhe seu filho Richard, que
não se sustentou mais de um ano no poder. O general George Monck, chefe
do Exército da Escócia, convocou de novo o Parlamento, o qual chamou de
volta o filho do decapitado Carlos I, que do exílio prometera a anistia.
Em maio de 1660, Carlos II entrava em Londres.
Carlos II tinha convicções absolutistas, como o pai, e desejava
empreender uma política exterior de altos vôos. Estava, contudo,
economicamente preso ao Parlamento, o que tornou vacilante sua
intervenção nas guerras que Luís XIV da França travava com os Países
Baixos. Sua política interna também foi contraditória: contra a
Declaração de Tolerância, que de fato favorecia os católicos, o
Parlamento decretou que todos os funcionários deveriam fazer um
juramento que rechaçasse os dogmas do catolicismo.
Os parlamentares, a partir daí, começaram a dividir-se em dois
partidos: os whigs, decididos a defender suas prerrogativas, e os
tories, partidários do rei. Os primeiros conseguiriam, em 1679, o
reconhecimento do habeas corpus, lei por meio da qual se garantiu a
liberdade individual ante detenções e prisões arbitrárias. Com a morte
de Carlos II, em 1685, subiu ao trono seu irmão Jaime II, católico
fervoroso. O descontentamento logo invadiu o país inteiro e um grupo de
nobres ofereceu secretamente a coroa ao holandês Guilherme de Orange,
protestante casado com uma das filhas de Jaime II.
Em novembro de 1688, Guilherme desembarcou na ilha e, quase sem
resistência, avançou em direção a Londres. Jaime II teve de exilar-se na
França. O Parlamento ofereceu a coroa a Guilherme (Guilherme III) e sua
esposa, Maria II, ao mesmo tempo que os fazia aceitar, em 1689, uma
Declaração de Direitos que subordinava as decisões do monarca à
autoridade do Parlamento. A revolução de 1688, dita revolução gloriosa, e
quase incruenta, fixou definitivamente o sistema político britânico,
que desde então evoluiu sem sobressaltos notáveis.
A rainha Maria morreu em 1694, sem filhos. Guilherme, concentrado na
política externa e submetido ao Parlamento, reinou até 1702. Sucedeu-lhe
Ana Stuart (1702-1714), segunda filha do destronado Jaime II, que
também não teve filhos. Nesses primeiros anos do século XVIII, a
Grã-Bretanha (nome oficial do país desde 1707 até 1801), empenhada na
luta contra a França e a Espanha, assentou as peças principais de seu
império colonial.
Os tratados de Utrecht (1713), que deram fim à guerra de sucessão ao
trono espanhol, consagraram a soberania britânica sobre Gibraltar e
Minorca, que constituíram as bases de uma frota britânica no
Mediterrâneo.
A França teve de ceder a Terra Nova e outros territórios da América do
Norte, onde as colônias da Nova Inglaterra se desenvolviam rapidamente. O
comércio britânico estendeu-se pela Índia, pelas costas africanas e
pequenas Antilhas, assim como a economia de Portugal e suas possessões
ficou em parte submetida aos intermediários britânicos.
Dinastia Hanover. De 1714 a 1789, a Inglaterra viveu um período de
sólida unidade política, social e econômica, somente interrompida pelas
conseqüências da queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Fase de
grande atividade econômica e financeira, novos portos, entre eles
Bristol, Liverpool e Glasgow, foram abertos na costa ocidental,
dilatando os horizontes comerciais britânicos.
A aquisição do Canadá, o aumento do poderio da Companhia da Índias
Ocidentais e as viagens de James Cook ao Pacífico (1768-1779) ilustram o
expansionismo imperialista que caracterizou essa época. Ao lado disso, o
clima cultural, traduzido por grandes conquistas na literatura,
filosofia, história, ciências naturais e economia política, contribuiu
decisivamente para fomentar o novo substrato econômico.
A rainha Ana morreu repentinamente, em 1714. Ante o perigo de que lhe
sucedesse no trono seu irmão Jaime Eduardo, católico, exilado na
França, o Parlamento apressou-se em proclamar o rei Jorge de Hannover,
como Jorge I, rei de 1714 a 1727. Tanto este como seu filho Jorge II
(1727-1760) continuaram a ser mais alemães do que britânicos.
Preocuparam-se diretamente com os assuntos de seus estados alemães e
deixaram o Parlamento dirigir os destinos da Grã-Bretanha sem
interferências.
Ao longo do século XVIII, foi-se estabelecendo o costume de que os
assuntos de governo fossem dirigidos por um gabinete escolhido entre
homens que contavam com a confiança da maioria dos parlamentares. No
final do século surgiu, já reconhecida, a figura do primeiro-ministro.
O Parlamento estava longe de ser um órgão eleito democraticamente. A
Câmara dos Lordes foi perdendo importância, mas a Câmara dos Comuns, em
que residia o verdadeiro poder, estava composta de representantes da
aristocracia territorial e do dinheiro, em muitos casos coincidentes, já
que a nobreza britânica, à diferença da continental, nunca temeu
manchar as mãos com o emprego de seu patrimônio no comércio ou nas
manufaturas.
O sufrágio era restrito e as circunscrições eleitorais praticamente
não se haviam modificado desde a Idade Média. O voto não era secreto e a
corrupção era a norma. O sistema só começou a experimentar reformas no
início do século XIX. No resto da Europa, porém, o sistema político
britânico passou a ser visto com admiração.
Essa é a parte de nosso blog onde você pode estudar para a escola e ficar atualizado nos conhecimentos gerais!!!
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