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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Reino Unido 3

Inglaterra normanda
Eduardo, último rei saxão, era homem virtuoso, porém fraco. Mais preocupado com a salvação de sua alma do que com o destino do reino, educado na Normandia e grato pelo acolhimento recebido durante o domínio dinamarquês, prometeu o trono da Inglaterra a seu primo, o duque Guilherme o Bastardo, depois Guilherme o Conquistador. A mesma promessa teria sido feita a Sweyn II da Dinamarca e a Haroldo, filho de Godwin, conde de Wessex e Kent.
Com a morte de Eduardo em 1066, o conselho de sábios decidiu entregar a coroa a Haroldo, de preferência ao jovem Edgard Atheling, neto de Edmundo Ironside. Guilherme da Normandia reivindicou imediatamente a sucessão ao trono britânico. Moveu campanha em toda a Europa, sobretudo em Roma, acusando "seu vassalo" Haroldo de arrebatar-lhe "uma coroa prometida pelo soberano desaparecido", em violação das leis feudais e de um juramento solene.
O papa, a quem o duque normando prometera a reforma da igreja na Inglaterra, segundo as idéias de Hildebrando (papa Gregório VII), abençoou a empresa. A célebre tapeçaria de Bayeux, atribuída à rainha Matilde, mulher de Guilherme, mostra como florestas foram abatidas para construir os 750 navios necessários ao transporte de 12.000 a 15.000 homens, recrutados em toda a França, sob promessa de terras na Inglaterra e recompensas financeiras.
Haroldo foi morto na batalha de Hastings, e Guilherme o Conquistador foi coroado rei da Inglaterra em Westminster, em 25 de dezembro de 1066. Com ele começou a governar o país uma dinastia normanda, de cultura e língua francesas, com grandes possessões territoriais no continente europeu, o que haveria de conduzir à intervenção da coroa inglesa nos assuntos da França durante séculos.
Plantagenetas, casas de Lancaster e York
Estabeleceu-se na Inglaterra um eficaz sistema administrativo centralizado e instaurou-se um feudalismo de amplitude continental. O monarca Henrique II, da casa de Anjou, conquistou a Irlanda na segunda metade do século XII. Teve início, em sua época, uma sucessão de conflitos entre a coroa, a nobreza e o alto clero. Thomas à Becket, arcebispo de Canterbury, foi assassinado por ordem de Henrique. Os nobres obrigaram seu filho, João Sem Terra, a outorgar em 1215 a Magna Carta, que se considera tradicionalmente como o ponto de partida das liberdades e do sistema parlamentar inglês.
No final do século XIII, Eduardo I apoderou-se de Gales. Instituiu o título de príncipe de Gales, que ainda corresponde ao de herdeiro da coroa britânica, e iniciou as primeiras reuniões de um corpo deliberativo, integrado por nobres, funcionários do Tesouro e representantes dos diversos condados, que se denominou "parlamento modelo", germe da moderna instituição. Também tentou apoderar-se da Escócia, mas a resistência de seus habitantes conseguiu garantir a independência do país.
Em 1337 começou a guerra dos cem anos, que se prolongaria, com escassos períodos de trégua, até 1453. Os poderosos reis ingleses, senhores de grandes domínios continentais, enfrentaram o rei da França, com sorte diversa. A guerra desenvolveu-se no continente e, ao seu final, os ingleses viram-se expulsos dali. A partir de então acentuou-se a insularidade do país e fortaleceu-se o nacionalismo inglês.
A corte deixou paulatinamente de utilizar o idioma francês e desde 1362 os procedimentos judiciais começaram a desenvolver-se em língua inglesa. Geoffrey Chaucer, nos Canterbury Tales (Contos de Canterbury), escritos entre 1390 e 1400, deu dimensão literária ao idioma do povo, atestando que este se impunha sobre o da nobreza normanda.
Em 1455 começou um período turbulento, de quase permanente guerra civil ao longo de trinta anos. Foi a guerra das duas rosas, entre a casa de Lancaster e a de York, que deixou a Inglaterra exaurida. A entronização, em 1485, de Henrique VII, fundador da dinastia Tudor, restabeleceu a unidade do país.
Absolutismo Tudor. Depois de derrotar Ricardo III na batalha de Bosworth Field (1485), Henrique Tudor, conde de Richmond, inaugurou a dinastia Tudor, com o nome de Henrique VII. Durante seu reinado, de 1485 a 1509, mostrou-se autoritário e prudente, transformou a Inglaterra num país próspero e favoreceu a classe emergente dos comerciantes e armadores.
Seu filho Henrique VIII, soberano de 1509 a 1547, foi, além de excelente político, um extraordinário poeta e músico. Ante a Reforma religiosa que abalava a Europa, definiu-se a princípio favorável a Roma. Mais tarde, quando o papa se negou a conceder-lhe o divórcio de Catarina de Aragão, erigiu-se em chefe da Igreja da Inglaterra, cisma sancionado em 1534 pelo Estatuto de Supremacia. Os mosteiros foram suprimidos e seus bens confiscados em favor da coroa. As execuções de luteranos (tidos como hereges) e de católicos (como traidores à coroa) sucederam-se em seu reinado.
Os três filhos que Henrique teve com três esposas diferentes reinaram na Inglaterra. Eduardo VI (1547-1553), por sua pouca idade, apenas pôde intervir nas tarefas do governo. Maria I (1553-1558) restabeleceu o catolicismo e perseguiu com violência os protagonistas do cisma anterior, pelo que recebeu o nome de Maria a Sanguinária (Bloody Mary). No mesmo ano de sua morte, a França apoderou-se de Calais, o último local do continente em poder da Inglaterra.
Período elisabetano
Elizabeth I (1558-1603), filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, rechaçou de novo o catolicismo. Reformou a Igreja da Inglaterra e aproximou-a do protestantismo. Com isso conquistou a simpatia da burguesia cada vez mais poderosa e o apoio decidido da nobreza latifundiária, que enriquecera com os bens confiscados a conventos e mosteiros.
O Parlamento não opôs obstáculos às ambições da rainha, que coincidiam com as da maioria dos parlamentares. A Lei dos Trinta e Nove Artigos, em 1563, deu forma definitiva à Igreja Anglicana.
Ao longo do reinado de Elizabeth I, a Inglaterra transformou-se em adversária do poder espanhol, cujas colônias americanas começaram a ser atacadas por navios ingleses. Os comerciantes londrinos fizeram da capital inglesa um empório econômico de primeira grandeza. A cobiçada lã inglesa, antes exportada para a manufatura em Flandres, passou a ser trabalhada na ilha. Começaram a surgir poderosas empresas comerciais, como a Companhia das Índias.
Nessa etapa, o rei espanhol Filipe II, em várias ocasiões, tentou derrubar Elizabeth, mediante o apoio às facções católicas dispostas a destronar a rainha, mas fracassou nesse intento. Em revanche, Elizabeth favoreceu abertamente a rebelião dos Países Baixos contra o monarca espanhol, que tentou a invasão das ilhas Britânicas com a Invencível Armada. Sua destruição, em 1558, pelos navios ingleses, mais leves e manobráveis, marcou o princípio do declínio do império espanhol.
Os Stuarts e as revoluções inglesas
Quando Elizabeth I morreu sem deixar descendentes diretos, herdou o trono da Inglaterra o rei da Escócia, Jaime VI Stuart, que tomou o nome de Jaime I da Inglaterra (1603-1625). A partir de 1603, os quatro países britânicos -- Inglaterra, Irlanda, Gales e Escócia -- ficaram unidos politicamente sob a mesma coroa, embora o Parlamento inglês e o escocês só se unificassem em 1707.
Jaime I começou seu reinado seguindo os passos de Elizabeth. A partir de 1611, porém, suas relações com o Parlamento ficaram bastante tensas.
Seu filho Carlos I (1625-1649), que manifestou abertamente tendências absolutistas, também logo perdeu o favor do Parlamento. Empenhado em unificar religiosamente o país sob a Igreja Anglicana, teve de enfrentar a rebelião da Escócia, que era quase totalmente presbiteriana. Depois da derrota das tropas reais em Newburn, em agosto de 1640, Carlos I precisou convocar o "Parlamento longo", com o objetivo de reunir fundos para preparar novo exército.
O Parlamento, então, ergueu-se diante do rei, a quem apresentou em junho de 1642 as Dezenove Propostas, cuja aceitação teria significado, para Carlos I, a perda de todo o poder. A negativa do rei deu início a uma guerra civil entre a coroa e o Parlamento, que terminou com a derrota e a prisão do monarca. Condenado por alta traição, ele foi executado em 30 de janeiro de 1649.
Instaurou-se um regime de soberania parlamentar, denominado Commonwealth, durante o qual se promulgou o Estatuto de Navegação (1651) que, ao obrigar a realização do comércio britânico com navios britânicos, impôs o crescimento da frota própria, e prejudicou a similar holandesa. Oliver Cromwell, o homem que organizara o exército do Parlamento e forçara a execução de Carlos I, era o verdadeiro dono do poder. A partir de 1653 transformou-se em ditador e dissolveu o Parlamento.
Com a morte de Cromwell, em 1658, sucedeu-lhe seu filho Richard, que não se sustentou mais de um ano no poder. O general George Monck, chefe do Exército da Escócia, convocou de novo o Parlamento, o qual chamou de volta o filho do decapitado Carlos I, que do exílio prometera a anistia. Em maio de 1660, Carlos II entrava em Londres.
Carlos II tinha convicções absolutistas, como o pai, e desejava empreender uma política exterior de altos vôos. Estava, contudo, economicamente preso ao Parlamento, o que tornou vacilante sua intervenção nas guerras que Luís XIV da França travava com os Países Baixos. Sua política interna também foi contraditória: contra a Declaração de Tolerância, que de fato favorecia os católicos, o Parlamento decretou que todos os funcionários deveriam fazer um juramento que rechaçasse os dogmas do catolicismo.
Os parlamentares, a partir daí, começaram a dividir-se em dois partidos: os whigs, decididos a defender suas prerrogativas, e os tories, partidários do rei. Os primeiros conseguiriam, em 1679, o reconhecimento do habeas corpus, lei por meio da qual se garantiu a liberdade individual ante detenções e prisões arbitrárias. Com a morte de Carlos II, em 1685, subiu ao trono seu irmão Jaime II, católico fervoroso. O descontentamento logo invadiu o país inteiro e um grupo de nobres ofereceu secretamente a coroa ao holandês Guilherme de Orange, protestante casado com uma das filhas de Jaime II.
Em novembro de 1688, Guilherme desembarcou na ilha e, quase sem resistência, avançou em direção a Londres. Jaime II teve de exilar-se na França. O Parlamento ofereceu a coroa a Guilherme (Guilherme III) e sua esposa, Maria II, ao mesmo tempo que os fazia aceitar, em 1689, uma Declaração de Direitos que subordinava as decisões do monarca à autoridade do Parlamento. A revolução de 1688, dita revolução gloriosa, e quase incruenta, fixou definitivamente o sistema político britânico, que desde então evoluiu sem sobressaltos notáveis.
A rainha Maria morreu em 1694, sem filhos. Guilherme, concentrado na política externa e submetido ao Parlamento, reinou até 1702. Sucedeu-lhe Ana Stuart (1702-1714), segunda filha do destronado Jaime II, que também não teve filhos. Nesses primeiros anos do século XVIII, a Grã-Bretanha (nome oficial do país desde 1707 até 1801), empenhada na luta contra a França e a Espanha, assentou as peças principais de seu império colonial.
Os tratados de Utrecht (1713), que deram fim à guerra de sucessão ao trono espanhol, consagraram a soberania britânica sobre Gibraltar e Minorca, que constituíram as bases de uma frota britânica no Mediterrâneo.
A França teve de ceder a Terra Nova e outros territórios da América do Norte, onde as colônias da Nova Inglaterra se desenvolviam rapidamente. O comércio britânico estendeu-se pela Índia, pelas costas africanas e pequenas Antilhas, assim como a economia de Portugal e suas possessões ficou em parte submetida aos intermediários britânicos.
Dinastia Hanover. De 1714 a 1789, a Inglaterra viveu um período de sólida unidade política, social e econômica, somente interrompida pelas conseqüências da queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Fase de grande atividade econômica e financeira, novos portos, entre eles Bristol, Liverpool e Glasgow, foram abertos na costa ocidental, dilatando os horizontes comerciais britânicos.
A aquisição do Canadá, o aumento do poderio da Companhia da Índias Ocidentais e as viagens de James Cook ao Pacífico (1768-1779) ilustram o expansionismo imperialista que caracterizou essa época. Ao lado disso, o clima cultural, traduzido por grandes conquistas na literatura, filosofia, história, ciências naturais e economia política, contribuiu decisivamente para fomentar o novo substrato econômico.
A rainha Ana morreu repentinamente, em 1714. Ante o perigo de que lhe sucedesse no trono seu irmão Jaime Eduardo, católico, exilado na França, o Parlamento apressou-se em proclamar o rei Jorge de Hannover, como Jorge I, rei de 1714 a 1727. Tanto este como seu filho Jorge II (1727-1760) continuaram a ser mais alemães do que britânicos. Preocuparam-se diretamente com os assuntos de seus estados alemães e deixaram o Parlamento dirigir os destinos da Grã-Bretanha sem interferências.
Ao longo do século XVIII, foi-se estabelecendo o costume de que os assuntos de governo fossem dirigidos por um gabinete escolhido entre homens que contavam com a confiança da maioria dos parlamentares. No final do século surgiu, já reconhecida, a figura do primeiro-ministro.
O Parlamento estava longe de ser um órgão eleito democraticamente. A Câmara dos Lordes foi perdendo importância, mas a Câmara dos Comuns, em que residia o verdadeiro poder, estava composta de representantes da aristocracia territorial e do dinheiro, em muitos casos coincidentes, já que a nobreza britânica, à diferença da continental, nunca temeu manchar as mãos com o emprego de seu patrimônio no comércio ou nas manufaturas.
O sufrágio era restrito e as circunscrições eleitorais praticamente não se haviam modificado desde a Idade Média. O voto não era secreto e a corrupção era a norma. O sistema só começou a experimentar reformas no início do século XIX. No resto da Europa, porém, o sistema político britânico passou a ser visto com admiração.

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