Economia
O Reino Unido foi, no século XIX, líder indiscutível e centro da economia mundial. Ao longo do século XX, contudo, sua posição pouco a pouco declinou e sua importância econômica foi ultrapassada pela de um grupo de países que se industrializaram rapidamente e substituíram-no em diversos mercados.
O ingresso do Reino Unido na Comunidade Econômica Européia, em janeiro de 1973, teve como conseqüência um estímulo ainda maior do processo de concentração do comércio britânico com outros países da Europa ocidental, enquanto as relações econômicas com as antigas colônias sofreram progressivo esvaziamento.
Agricultura, pecuária e pesca
Trigo, cevada, batata e beterraba açucareira são os principais produtos agrícolas, enquanto ovelhas, vacas, porcos e galinhas são criados em grandes quantidades e por processos de alta modernização tecnológica. O leite e seus derivados constituem um dos itens mais importantes da produção pecuária.
Ao longo de muitas décadas protegeu-se a agricultura para estimular-lhe o crescimento, com a subvenção de seus custos para baratear o produto final. Desde a entrada na Comunidade Econômica Européia, a política agrícola teve de se alinhar com a desta última, tendente a manter preços agrícolas artificialmente elevados, o que gerou numerosos atritos entre o Reino Unido e seus parceiros.
Os mares que circundam as ilhas Britânicas são ricos em pescado de variadas espécies, razão pela qual a atividade pesqueira do Reino Unido é significativa e de raízes tradicionais, principalmente na Escócia. A ameaça de superexploração levou a acordos internacionais para limitar as capturas em diversos setores marítimos, submetidos a estrito controle.
Aproximadamente 6,5% da superfície do Reino Unido estão cobertos de florestas. A produção madeireira, apesar do ativo reflorestamento, só cobre uma pequena proporção das necessidades domésticas, supridas, principalmente, por importações de países do norte da Europa, Canadá e diversos países tropicais.
Energia e mineração
A primeira revolução industrial, que levou o Reino Unido à primazia econômica mundial no século XIX, baseou-se no emprego do carvão, que se encontra em grande quantidade no solo da Grã-Bretanha. Nas proximidades de Newcastle, os veios superficiais já eram explorados no século XIII. O rápido desmatamento da Inglaterra desde cedo impôs o emprego do carvão mineral para a calefação. Além disso, a invenção da máquina a vapor e o emprego de altos-fornos para a obtenção de ferro, desde as últimas décadas do século XVIII, estimularam a produção de tal maneira, que o sistema industrial inglês, pouco depois, ficou concentrado em torno das jazidas mais rentáveis do minério.
As planícies da Escócia, as terras situadas a leste e a oeste da cadeia Penina, a zona que rodeia Manchester, Leeds e o sul de Gales apresentam extensos e amplos veios carboníferos, que, ao ritmo de exploração atingido no final do século XX, ainda continham reservas para vários séculos.
Nos primeiros anos do século XX, o carvão britânico era exportado para todo o mundo. Em 1913 chegaram-se a extrair mais de 300 milhões de toneladas, mas depois da primeira guerra mundial a produção passou a cair, ainda que lentamente, e as exportações baixaram de forma drástica, por serem os custos de extração bem maiores que os dos países concorrentes.
Modernamente, a disseminação do uso dos derivados do petróleo eliminou boa parte das aplicações do carvão (calefação, obtenção de gás encanado, transporte), que continua utilizado sobretudo para geração de energia elétrica em centrais térmicas e a produção de coque para a siderurgia. Numerosas minas foram fechadas, algumas por esgotamento e as demais por falta de rentabilidade, de forma que extensas áreas industriais e mineiras perderam a atividade, enquanto o número de mineiros empregados nos trabalhos de extração reduziu-se rapidamente, com os conseqüentes bolsões de desemprego e de conflitos sociais.
Dois anos mais tarde começou a exploração em grande escala das jazidas e, na década de 1980, o Reino Unido havia passado de importador a exportador de derivados de petróleo, de que se transformou num dos principais produtores do mundo. Mais próximas à costa britânica, algumas jazidas de gás natural da plataforma continental do mar do Norte começaram a ser exploradas em 1965. Gasodutos submarinos logo as uniram à Grã-Bretanha, que se cobriu de uma densa rede de oleodutos e gasodutos, entre as principais cidades e centros industriais.
O governo britânico foi um dos primeiros a se interessar pela energia nuclear. A primeira usina a entrar em operação foi a Calder Hall, conectada à rede de distribuição em 1956. Seguiram-se muitas outras, de tecnologia aperfeiçoada. Apesar de proporcionarem uma substancial parcela da eletricidade consumida no país, sua rentabilidade, no entanto, é problemática. A maior parte da eletricidade do Reino Unido continua a ser de geração térmica convencional, em sua quase totalidade de centrais construídas junto a minas. A energia hidrelétrica é bastante escassa.
Indústria
No final do século XX, as principais indústrias tradicionais do Reino Unido, aquelas que constituíram a base de sua hegemonia econômica, estavam em crise. A siderurgia precisava importar a maior parte do minério de ferro e achava-se em plena reestruturação, após ser submetida a sucessivas estatizações e desestatizações pelos governos trabalhistas e conservadores. A construção naval achava-se em crise profunda e a indústria automobilística, na maior parte, estava controlada por capitais americanos.
É encabeçado pelo Banco da Inglaterra, fundado em 1694, e que foi entidade privada até sua estatização em 1946. Tem o monopólio de emissão de papel-moeda na Inglaterra e em Gales, e é o principal instrumento do governo para levar adiante sua política monetária e financeira. Atua como banqueiro do governo e dos outros bancos, inclusive de bancos centrais de outros países.
Um grande número de entidades financeiras de todos os tipos atua no Reino Unido, cujo cerne indiscutível é a City londrina, o núcleo central da cidade, onde têm seus escritórios as principais entidades, não somente bancárias como de seguros (encabeçadas pelo consórcio Lloyd's), companhias de navegação, a bolsa, diversos mercados financeiros e de matérias-primas, que fazem dela um dos maiores centros financeiros do mundo, ainda o primeiro deles em muitos campos.
O nível relativamente baixo dos preços britânicos diante dos de outros países de desenvolvimento mais rápido tem favorecido a afluência de turistas. Londres constitui o destino mais freqüente dos visitantes estrangeiros, graças a seus monumentos artísticos, às obras de arte de todo o mundo reunidas em seus museus e a sua intensa vida cultural.
Transportes e comunicações
A rede britânica de estradas de rodagem é bastante densa, embora seja pequena a extensão das rodovias em comparação com a de outros países da Europa continental e de parque automobilístico similar. O serviço de estradas de ferro continua a ser um dos melhores da Europa, com uma malha que, na segunda metade do século XX, era maior que a do Brasil, país de território 34 vezes maior que o do Reino Unido. Diversos canais de navegação atravessam o país e proporcionam um sistema eficaz de transporte, especialmente concebido para as mercadorias pesadas.
O eixo comercial mais importante da Grã-Bretanha atravessa-a de norte a sul, desde Glasgow, com passagem por Manchester, Birmingham e Londres, até os portos do canal da Mancha que ligam a ilha ao continente europeu. É constituído basicamente de rodovias e ferrovias rápidas mas, entre Londres e Manchester, também conta com canais de navegação. Em 1987 iniciou-se a construção do Eurotúnel, entre a França e o Reino Unido, sob o canal da Mancha. Foi inaugurado no fim de 1994.
As ilhas Britânicas contam com grande número de excelentes portos marítimos, que canalizam intenso tráfego de mercadorias. Salientam-se os de Londres, Southampton e Liverpool. O transporte marítimo de passageiros, absorvido pelo avião para as grandes distâncias, ficou reduzido à travessia do canal, à ligação com a Irlanda e as ilhas menores.
A maior parte do movimento de passageiros entre o Reino Unido e outros países realiza-se por via aérea. Londres constitui um dos mais movimentados centros de transporte aéreo do mundo. O saturado aeroporto de Heathrow se complementa com os serviços próximos de Gatwick, Southend, Luton e Stansted. Os aeroportos de Prestwick, perto de Glasgow, e Manchester também recebem intenso tráfego aéreo internacional. As ilhas adjacentes estão ligadas à Grã-Bretanha por meio de rotas aéreas.
História
Depois do desaparecimento do homem paleolítico e do fim do período glacial, as ilhas Britânicas foram habitadas, em torno do ano 3000 a.C., por grupos neolíticos nômades, procedentes do noroeste da Europa, que trouxeram consigo a prática da pecuária e da agricultura dentro de áreas cercadas, em associação com a cerâmica e instrumentos de pedra aperfeiçoados.
As gigantescas ruínas próximas à cidade de Avebury, o monumento megalítico de Stonehenge e as colinas artificiais da colina dos Gigantes indicam a existência, a partir de 2000 a.C., de uma população numerosa, habituada a se unir para ação coletiva sob a direção de uma autoridade comum.
Antiguidade. Entre os séculos VI e IV a.C. chegaram à Inglaterra e à Irlanda vagas sucessivas de tribos pastoris e guerreiras, pertencentes a um povo celta, ocupantes de territórios imensos no vale do Danúbio, ao norte dos Alpes, e na Gália. Como parte integrante da lenta penetração celta vieram os bretões, cuja língua permaneceu entre os galeses e bretões da França e desapareceu na Inglaterra sob o influxo das invasões germânicas.
Esses povos, organizados em clãs, não tinham a noção de estado nem deixaram uma herança política. Sua arte prendia-se diretamente à cultura La Tène, dos celtas continentais.
A classe mais prestigiosa era a dos religiosos ou druidas, praticantes de magias e de ritos bárbaros, com sacrifícios humanos. Celtas bretões e celtas belgas, fixados em lados opostos da Mancha, estabeleceram relações estreitas e constantes. Quando a civilização romana invadiu a Gália belga, transferiu-se assim, sem dificuldade, às ilhas Britânicas. Júlio César invadiu a Bretanha (a futura Grã-Bretanha) entre 55 e 54 a.C., mas a conquista romana foi empreendida efetivamente pelo imperador Cláudio, no ano de 43 da era cristã. A maior parte da ilha era já romana nas últimas décadas do século I.
A Escócia, porém, não despertava interesse econômico e era habitada por tribos de obstinada resistência. No ano 122, após o massacre de uma legião, o imperador Adriano deslocou-se pessoalmente para a Bretanha, à frente de novas tropas. Um exame da situação levou-o a renunciar à conquista do norte e a fortificar uma linha entre o estuário do Tyne e o golfo de Solway, construindo 14 fortes unidos por uma muralha de pedra, com guarnição militar permanente (muralha de Adriano). A Escócia e a Irlanda, assim, não foram romanizadas.
Anglos e saxões. No século V, quando o Império Romano se decompôs, a Bretanha foi invadida pelos anglos, pelos saxões e jutos, que se estabeleceram nas terras mais ricas do sul e leste, deslocando os povos restantes, quase totalmente cristãos, para as terras mais pobres do norte e oeste. Segundo a tradição estabelecida no século VIII por Beda o Venerável, os anglos eram originários do Schleswig; os saxões provinham do vale inferior do Elba; e os jutos, da península da Jutlândia. Além desses, outros grupos, como os frísios, participaram da migração para a Bretanha.
Entre os séculos VI e VII existiu na Inglaterra a chamada heptarquia, composta dos reinos da Mércia, Ânglia Oriental e Nortúmbria, no norte, e Kent, Essex, Sussex e Wessex, no sul. No século VIII, subsistiam três desses reinos: a Nortúmbria, a Mércia e o Wessex; e no século IX, somente o último perdurava.
A introdução do cristianismo na Inglaterra, ocorrida nesse período histórico, foi obra de dois grupos de missionários, um vindo de Roma e outro dos países celtas e, sobretudo, da Irlanda. São Patrício evangelizou as tribos celtas e criou mosteiros de onde partiram os missionários responsáveis pela conversão dos celtas da Escócia. Na Irlanda, no País de Gales e na Escócia formou-se, assim, uma igreja nacional, independente da igreja de Roma. Por seu lado, o papa Gregório I enviou, no ano 596, uma missão de quarenta monges, chefiada por santo Agostinho de Canterbury, a fim de converter os povos ingleses.
Invasões dinamarquesas. As primeiras incursões escandinavas contra pontos isolados da costa britânica ocorreram no final do século VIII. Esses ataques cresceram em força e freqüência até que, no ano 851, uma frota dinamarquesa de 300 navios desembarcou seus homens na foz do Tâmisa e tomou de assalto Canterbury e Londres.
Os êxitos surpreendentes dessas expedições, compostas, inicialmente, de pequenos grupos, mas que chegaram a incluir cerca de dez mil homens, se deveram ao fato de pertencer aos viquingues o domínio do mar. Os saxões, homens dos campos e das florestas, esquecidos de suas tradições marítimas, permitiram aos invasores a conquista de quase todo o país. A Irlanda foi a primeira a ser subjugada, seguindo-se a Nortúmbria, Mércia e grande parte do próprio Wessex.
A ameaça de uma ocupação completa dos domínios saxões pelos dinamarqueses levou o rei Alfredo, em 878, a refugiar-se nos alagados de Somerset, onde construiu um pequeno forte. Um ano depois, o monarca convocou secretamente os chefes saxões de Somerset, Wiltshire e Hampshire e derrotou os dinamarqueses na batalha de Edington. Alfredo, que veio a ser chamado o Grande, fortaleceu as forças terrestres e navais e reformou a justiça e a educação. Os efetivos militares cresceram com a elevação à categoria de thanes (chefes militares) de todos os homens livres, proprietários de terras. Essa pequena nobreza, prenúncio do feudalismo, prestava serviço na cavalaria e guardava as antigas fortificações romanas reconstruídas.
A paz de que o país desfrutou por algum tempo se deveu tanto à bravura dos anglo-saxões quanto ao fato de que os escandinavos lutavam entre si para a formação dos reinos da Noruega e Dinamarca. Terminado esse período de lutas internas, recomeçaram as incursões, que aos poucos se transformaram em nova e maciça invasão. Ethelred II, ao invés de defender o país procurou comprar a retirada dos agressores com o pagamento de um tributo de dez mil libras.
Em 1013, Sweyn I da Dinamarca voltou a invadir a Inglaterra sem resistência. Seu filho mais moço, Knud ou Canuto I, sucedeu-lhe no comando das forças invasoras e no governo do país conquistado. Com a morte de Edmundo II Ironside, último monarca saxão a oferecer resistência no Wessex, em 1016 o conselho de sábios resolveu oferecer a coroa da Inglaterra ao invasor vitorioso. Uma dinastia escocesa, enquanto isso, juntou em um só reino as terras do norte da Grã-Bretanha.
O império anglo-escandinavo era, porém, demasiado artificial para resistir à morte de seu fundador. Depois de lutas entre os herdeiros de Canuto, o conselho de sábios, atendendo agora aos anseios do povo, entregou a chefia do reino a um príncipe saxão, filho de Ethelred. O reino de Eduardo, chamado o Confessor, que reinou de 1042 a 1066, é considerado o prelúdio da conquista normanda.
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