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terça-feira, 5 de abril de 2011

A Crise no Quênia

A África atualmente continua sendo um dos continentes mais assolados pelos conflitos, isso remonta a um passado colonial onde as desigualdades e a violência foi diretamente empregada pelos colonizadores europeus.Esta crise é somente mais uma dentre tantas que este continente enfrenta no momento.

A Republica do Quênia país da África Oriental, limitado a norte pelo Sudão e pela Etiópia, a leste pela Somália e pelo Oceano Índico, a sul pela Tanzânia e a oeste por Uganda, após as eleições presidenciais de 27 de dezembro esta totalmente desestabilizado beirando a um colapso.

A História

Os conflitos na região africana e no Quênia em especial não são recentes para explica-lo podemos iniciar nossa analise nos anos de 1963, com a independência após um período colonial. Após a sua independência , constitui uma republica e passa a ser membro da Commonwelth em 1964, sob a presidência do carismático Kenyatta (KANU ), o qual foi reeleito em 1969 e 1974. O governo de Kenyatta foi moderado, pró-ocidental e progressista características do Partido Kanu.. Até o final da década de 1960, o Quênia era, na prática, um Estado de partido único. Um grande número de investidores estrangeiros instalou-se no país; o turismo se expandiu e tornou-se a mais importante fonte de divisas.Após a morte de Kenyatta em 1978, assumiu o poder Daniel Arap Moi, único candidato à presidência nas eleições do ano seguinte. Arap Moi manteve a mesma orientação política do antecessor. A oposição ao presidente cresceu, culminando com uma sangrenta tentativa de golpe de Estado, ainda em 1982. Muitos dirigentes foram presos. No mesmo ano a Assembléia Nacional declarou, oficialmente, o mono partidarismo no país. Seguiu-se um período de censura e perseguição política aos opositores do regime, liderado pelo partido da União Nacional Africana do Quênia (KANU). As eleições de 1983 testemunharam o retorno à estabilidade relativa, ainda sob a presidência de Arap Moi, mas o regime mostrou-se cada vez mais corrupto e autocrático. Em 1988 Moi foi indicado para cumprir um terceiro mandato. Dois anos depois, uma aliança entre intelectuais, advogados e o clero começou a exercer pressões sobre o governo para legalizar os partidos de oposição. Alguns dos membros da aliança foram presos, outros assassinados.

Em dezembro de 1991, por causa da pressão do Fórum pela Restauração da Democracia, apoiado por alianças ocidentais, Moi aceitou com relutância empreender reformas políticas, entre as quais a criação de um sistema político multipartidário. A tensa situação continuou durante o ano de 1992, com manifestações, distúrbios e greves. Vários novos partidos políticos foram registrados, alguns dos quais concorreram às primeiras eleições presidenciais livres, em dezembro do mesmo ano. Arap Moi venceu as eleições e assumiu seu quarto mandato, embora sobre ele pesasse a acusação de ter fraudado os resultados. O Parlamento foi fechado, apesar dos protestos da oposição. Em 1993, o governo continuou a restringir a atividade da oposição e foi acusado de incitar a violência étnica, numa tentativa de desacreditar o regime político pluralista. A entrada de cerca de 500 mil refugiados procedentes da Somália, da Etiópia e do Sudão fez crescer os problemas para o governo queniano.

Durante o princípio da década de 1990, guerras tribais mataram milhares de pessoas e desalojaram dezenas de milhares. O apoio dos EUA manteve no poder de 1978 até 2002 o regime de Daniel Arap Moi e do seu partido KANU, que era pró-ocidental durante a Guerra Fria. Embora a cláusula da constituição queniana que proibia partidos de oposição tenha sido revogada nos anos 90 (com a ajuda de Smith Hempstone), Moi permaneceu no poder para cumprir um quarto mandato depois das primeiras eleições multipartidárias em 1997 devido às divisões étnicas (que a propaganda do KANU ajudou a fomentar) na oposição. Além disso, as eleições de 1997 foram também marcadas pela violência e por fraudes.

O presidente Mwai Kibaki foi eleito em 2002 com a promessa de mudança, encerrando 40 anos de domínio de um único partido, o Kanu, no governo. Kibaki apoiado pela coligação NARC - tornou-se no primeiro candidato presidencial da oposição a vencer uma eleição no país desde a independência. A sua coligação manteve-se coesa graças às promessas de reformas constitucionais e às garantias de que iria nomear representantes de todos os grupos étnicos principais do Quénia para lugares importantes. As eleições de 2002 foram amplamente elogiadas, depois de votações anteriores marcadas por alegações de irregularidades e violência étnica. O presidente do Quênia na época, Daniel Arap Moi, concordou em deixar o poder depois de 24 anos de governo. O candidato apoiado pelo presidente também aceitou a derrota.

Mas a negligência de Kibaki em cumprir estas promessas depois das eleições causaram vários focos de tensão, incluindo a saída do LDP da coligação. Além disso, vozes importantes do KANU - e em particular Uhuru Kenyatta, filho do primeiro presidente do país, Jomo Kenyatta - têm vindo a ganhar nova popularidade. "Yote yawezekana bila Kibaki" (Tudo é possível sem Kibaki) é o slogan desse descontentamento.

2007 Porque esta eleição esta causando tanta instabilidade?

Atualmente a fonte de instabilidade no Quênia foi ocasionada apos o levantamento de suspeitas de fraude pelo candidato de oposição Raila Odinga contra o atual presidente re eleito Mwai Kibaki.

Observadores da União Européia criticaram o pleito e disseram que alguns dos resultados divulgados na capital, Nairóbi, eram diferentes dos apurados nos distritos eleitorais. Em algumas regiões, o número de votos foi maior do que o número de eleitores registrados chegando a incrível marca de 115%.

Existem alguns fatores como a questão étnica, o grande grupo de refugiados advindos de outros paises, a corrupção interna em suas instituições e a falta de controle com a segurança interna, explicaria a instabilidade atual do Quênia. Analisaremos fator a fator para tentar elucidar um pouco mais a onda de violência que assola este país.

Iniciaremos pela questão étnica, atualmente fonte dos principais conflitos não somente no continente africano, mas no mundo. No Quênia a política sempre foi muito influenciada pela questão étnica.

Os 36 milhões de quenianos se dividem em mais de 40 grupos étnicos distintos. Segundo estatísticas do governo, os principais grupos são: os kikuyu (22% da população), luhya (14%), luo (13%), kalenjin (12%) e kamba (11%). Os membros do grupo étnico de Odinga, o Luo, concentrados principalmente no oeste do país e nas favelas de Nairóbi, votaram em sua maioria no "seu" candidato.

Da mesma maneira, a maioria dos Kikuyus, que vivem principalmente na região central do Quênia, votou em Kibaki.A corrupção ainda é comum no Quênia, o que leva muitas pessoas a acreditar que ter um parente no governo pode trazer benefícios diretos, como um emprego no serviço público.

As tensões étnicas entre Luos e Kikuyus são grandes e os enfrentamentos são inevitáveis assim como as chacinas que segundo a cruz vermelha e anistia internacional é um dos principais fatores de mortes na áfrica atrás apenas da AIDS e da desnutrição.

Nas favelas superlotadas de Nairóbi, os moradores são obrigados a conviver com gangues violentas. As condições sanitárias são precárias. Não há esgotos, e os banheiros são substituídos por sacos plásticos, depois jogados pela janela.
Essas são algumas das pessoas que esperavam que Odinga trouxesse mudanças para o país. Essas pessoas afirmam que Kibaki não manteve sua promessa de acabar com a corrupção, um problema que há anos atrasa o desenvolvimento do Quênia.

Prejuízo regional

A onda de violência afetou o escoamento da produção de café e chá do país, que tiveram seus leilões internacionais cancelados temporariamente. A bolsa de valores de Nairóbi foi fechada e companhias cancelaram pacotes turísticos, aconselhando seus clientes a procurarem outros destinos. O centro da capital queniana, que concentra atividades econômicas, permaneceu fechado ou com acesso restrito pelos últimos dias. Bloqueios da polícia, que tentava evitar manifestações, medo de vandalismo ou problemas com o transporte público levaram lojas e empresas a fechar as portas.

Segundo associações de comerciantes, o fechamento de estabelecimentos de comércio fez o Quênia perder cerca de US$ 31 milhões por dia em impostos.A paralisação do país por causa da violência mostrou o quanto o leste da África dependente do Quênia. Se internamente o fechamento de estradas tornou difícil o escoamento e distribuição de produtos --o que, ao lado da destruição de estabelecimentos comerciais, fez com que os moradores tivessem que comprar alimentos a preços mais altos, a crise foi sentida por consumidores de países vizinhos.

Uganda e Ruanda, países sem costa que dependem em grande parte do porto queniano de Mombaça, tiveram que tomar medidas para racionar combustíveis.
Caminhões com alimentos que iriam para Campala, capital da Uganda, ficaram dias parados no Quênia. Em Ruanda, o governo chegou a anunciar que estava negociando com a Tanzânia para escoar combustíveis da costa leste até seu território. No Burundi, a falta de combustíveis chegou a ameaçar a saída de aviões do aeroporto internacional de Bujumbura.

O Perigo da proliferação do Conflito

Odinga tem também a opção de entrar com um recurso legal contra o resultado das eleições. Mas como Kibaki foi empossado imediatamente após a divulgação do resultado oficial, são poucas as chances de que essa alternativa trouxesse resultados para o candidato derrotado.

A localização do Quênia anteriormente citada não foi mera ilustração e sim uma maneira de alertar o quão grande é a gravidade deste conflito. A Republica do Quênia esta localizada muito próxima de uma área chamada chifre da áfrica da qual fazem parte a Eritrea, Etiópia Djibouti, Somália e Sudão, atualmente a região de maior intensidade de conflito no continente. No chifre da áfrica temos conflito entre Eritrea e Etiópia , a Somália e a repressão aos movimentos separatistas do Somaliland e o caso de maior visibilidade no cenário internacional sobre África atualmente que é o massacre em Darfur localizado no Sudão.

A África continua sendo berço dos conflitos mais sangrentos devido a intolerância e pela divisão errônea das potencias coloniais no passado nas quais definiam fronteiras e possessões não levando em conta grupos étnicos, culturas etc. Mas sim com um esquadro e um lápis sendo culpada assim pela maioria das crises que existiram e ainda existem.
Por Alexandre Milão
Colunista Brasil Escola

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